Do lado de lá do Atlântico também havia muita expectativa em relação aos resultados das eleições na Grécia. Daí que já passe das quatro da manhã quando começo a escrever este post.
Começo pelo Egipto onde ainda não se conhecem os resultados definitivos, mas tudo indica que o ex-primeiro ministro de Mubarak venceu as eleições. O que já se sabe é que, suspenso o Parlamento, os militares assumiram o poder legislativo logo após o encerramento das urnas. Como sempre escrevi, confirma-se: a Primavera Árabe pode esperar. Há um longo caminho a percorrer, muitas mortes ainda a registar, mas os EUA devem ter suspirado de alívio. Está garantido que as coisas mudaram, para que tudo ficasse na mesma.
Em França o PS alcançou uma vitória esmagadora. Há festa no Eliseu, com Valérie a festejar efusivamente: Ségolène Royal foi derrotada por Olivier Farloni, o candidato renegado pelas cúpulas socialistas e não será candidata a presidente da Assembleia Nacional.
Mas a mãe dos filhos de Hollande não será a única a sofrer de insónias esta noite. Marine Le Pen bem poderá festejar o regresso da Front National à Assembleia, mas o facto de ter sido derrotada na sua circunscrição pelo candidato do PS, deve-lhe ter deixado um travo amargo na boca na hora de brindar. De qualquer modo, a famíia Le Pen estará representada, pois a sobrinha de Marine foi eleita e salva a honra do convento da extrema-direita gaulesa.
A FN terá dois deputados mas não formará grupo parlamentar. Apenas estará no Parlamento para assinar o ponto e, de quando em vez, fazer uma intervenção permitida pelo regimento.
Quanto à UMP, de Sarkozy, teve um resultado quase vexatório. As suas principais figuras - que nas presidenciais e nas legislativas se colaram a algumas teses xenófobas da FN – foram estrondosamente derrotadas. Começou a noite das facas longas na UMP.
Finalmente a Grécia. Não houve Syriza no topo do bolo e a Nova Democracia- principal responsável pela crise- venceu mais folgadamente do que muitos esperavam. Uma vitória da troika
Tsipras foi obrigado a cancelar a viagem a Bruxelas e, pior ainda, foi impotente para evitar que ND e PASOK alcançassem a maioria.
Os socialistas gregos- que voltaram a perder votos e deputados em relação às eleições de 6 de Maio- viabilizarão um governo com a ND e talvez a esquerda moderada, mas o mais provável é que não integrem o governo. Será pois um governo frágil e a prazo e os socialistas estão tão fragilizados, que o mais provável é virem a tornar-se um partido insignificante num futuro muito próximo. António José Seguro deverá tirar as ilações deste resultado do PASOK, mas tenho muitas dúvidas que seja capaz de o fazer…
Assustadores são os resultados do partido neo-nazi. Apesar de ter protagonizado cenas macabras durante a campanha – a que não faltaram agressões em directo na televisão durante um debate e a promessa de expulsão de todos os imigrantes dos hospitais- A Aurora Dourada conseguiu eleger 18 deputados!
Estes resultados dão uma imagem do que é, nestes dias a sociedade grega. Parece que na Alemanha a senhora Merkel terá respirado de alívio com os resultados desta noite eleitoral. Isso apenas prova que esta engenheira química -que foi para a RDA aprender a fazer bombas atómicas – continua completamente desfasada da realidade e, pior ainda, teima em fazer deflagrar a bomba atómica na Europa.
Não se augura nada de bom nos próximos tempos. Nem sequer será correcto dizer que a Europa recebeu um balão de oxigénio com os resultados eleitorais na Grécia. A situação é tão asfixiante, que apenas uma terapia de choque poderá devolver ao paciente ( o €uro) capacidade para respirar. Se Merkel insistir em resolver o problema com Aspirinas, a morte anunciada consumar-se-á. Talvez a reunião do G-20 e, posteriormente, a Cimeira Europeia de Junho, venham trazer alguma luz sobre esta longa noite de trevas que se vive na Europa. Mas, antes, ainda haverá um Grécia – Alemanha que se vão degladiar nos quartos do Euro da Bola.
Fico a torcer para que Fernando Santos consiga conduzir os gregos a uma vitória sobre os alemães.