…mas podia ter sido.
Tarde de sábado chuvosa de um dia de Primavera. Noémia está em casa a ouvir música. Nada acontece por acaso, mas suponhamos que foi o acaso que a conduziu ao seu baú de recordações. Vai remexendo em cartas e fotos antigas, em cada uma relembra momentos de uma juventude que há muito deixou para trás.
Uma das fotos retém-na mais prolongadamente. Foi tirada em 1962 e retrata jovens num campo de futebol. Reconhece-se num dos 21 rostos bem dispostos que se alinham em duas filas. Faz um esforço para identificar os restantes. Alguns não lhe oferecem dúvidas mas, para identificar os outros, pede a ajuda do seu amigo Raimundo.
O que os uniu naquela foto foi o amor ao desporto, mas a maioria era estudante no Instituto Superior Técnico , todos foram activistas do movimento associativo estudantil, alguns exerceram funções dirigentes nos órgãos associativos, outros estiveram presos durante a ditadura.
Entre os retratados, nomes como Raimundo Narciso, António Alves Redol, Fernando Rosas, Teresa Tito de Morais, Mário Lino, José Gomes de Pina, José Gameiro ou Joaquim Letria.
São conhecidos os percursos de todos estes jovens, alguns dos quais já falecidos, mas naquele tempo poucos sabiam que a maioria deles era militante do Partido Comunista Português. Muitos deles não se terão voltado a encontrar mas, quando Noémia Simões descobriu aquela foto no seu baú, as vidas de oito deles voltaram a reunir-se para um testemunho que tomou a forma de livro.
Ao final da tarde de segunda-feira, no salão nobre da Reitoria da Universidade de Lisboa, Jorge Sampaio apresentou o livro “A Foto e o Reencontro Meio Século Depois” e Carlos Mendes cantou.
Alguns corações bateram mais depressa, outros ficaram mais pequeninos, mas ninguém ficou indiferente ao recuar 50 anos. Tempos que não vivi, mas que senti como se também lhes pertencesse. Tudo foi possível graças ao reencontro de uma personagem com a sua fotografia. Haverá coincidências?
Agora, se quiserem saber mais,
vão ler aqui