Aviso prévio: eu sei que na imagem deste cartaz da APSI está um urso e este post é sobre um coelho. Mas qual é a diferença?
Cavaco já percebeu ( ou alguém lhe fez perceber...) que o falhanço deste governo o vai chamuscar, afectando a sua credibilidade. O PR não quererá afundar-se com este governo e ficar remetido para uma página negra da História que não só realçará os sucessivos falhanços dos seus mandatos presidenciais, como acabará por lembrar aos portugueses que por cá andarem no próximo século, sob o jugo do império franco-alemão, que a perda de independência se ficou a dever à inépcia do então PR, cumulativamente responsável – enquanto primeiro-ministro - pela situação de crise em que Portugal mergulhou no final da primeira década, por ter sido o iniciador do período de falsa abastança em que vivemos durante quase um quarto de século.
Só ouvir falar da hipótese de não ser recordado pelos descendentes como um brilhante político que marcou 30 anos da vida portuguesa, deixa Cavaco com os cabelos em pé. Pensar que o culpado disso não foi Sócrates, mas sim um seu inimigo de estimação chamado Pedro Passos Coelho, deixa-o à beira de uma apoplexia.
Mas Cavaco não ficou paralisado e decidiu agir. O resultado da sua acção foi visível no último fim de semana na revista do “Expresso” e na segunda –feira na TVI 24.
Numa entrevista a Clara Ferreira Alves (Expresso) e em parceria com Medina Carreira no programa da Judite ( TVI 24) Rui Rio expôs-se. A Clara Ferreira Alves enalteceu a obra deixada no Porto e vincou a sua personalidade política dando exemplos dos interesses instalados que enfrentou com sucesso. Na TVI 24, cascou forte e feio nas políticas seguidas por este governo, acusando-o nomeadamente de ceder aos interesses instalados e de fazer uma distribuição desigual dos sacrifícios.
Poder-se-á dizer que é mais um a contar mentiras mas – digo eu que sou insuspeito e já aqui zurzi forte e feio em Rui Rio- a verdade é que tendo sido inicialmente muito contestado conseguiu impôr-se aos sectores que mais o contestavam e transformar a sua primeira vitória tangencial, sobre um descredibilizado Fernando Gomes, em vitórias esmagadoras. E fê-lo apresentando obra.
Já aqui escrevi, no Verão passado, que ou as coisas corriam muito bem a Coelho, ou não chegaria ao fim do mandato. Ora, a verdade, é que as coisas não estão a correr nada bem. Os portugueses estão a sofrer na pele a austeridade mais draconiana de que há memória desde a II Guerra Mundial e não vêem resultados que justifiquem os seus sacrifícios. A economia não cresce, o desemprego atinge números pré-históricos, o crédito não chega às pequenas e médias empresas, porque fica estrangulado nas grandes famílias empresariais, para a concretização de negócios ( por vezes de contornos nubelosos) avalizados pelo governo.
O actual PM pode enganar tolos com aquele ar dengoso e falinhas mansas de dandy da Porcalhota, mas não ilude Cavaco que, além de discordar da política seguida pelo governo e ter umas contas antigas a ajustar com Coelho, tem um projecto de poder pessoal . Falhou em 2009 com a derrota de Manuela Ferreira Leite e agora só pode concretizá-lo mediante um governo de iniciativa presidencial.
Ainda não é o momento para Cavaco tirar o tapete a Coelho. Isso só acontecerá para o final de 2013, depois das eleições autárquicas. No entanto, há sinais de que as suas tropas se começam a movimentar e esta ofensiva de Rui Rio na comunicação social, logo após a entrevista de PPC à TVI, não foi acidental. Faz parte de uma estratégia de Belém que visa colocar o primeiro-ministro em dificuldades não só no governo, mas também nas autárquicas e presidenciaias, onde se vai ver obrigado a repensar o apoio a Luís Filipe Menezes para o Porto ( sobre isso escreverei numa próxima oportunidade) e a Durão Barroso para as presidenciais de 2016.
Envolvido por uma tenaz manobrada discretamente a partir de Belém, Pedro Passos Coelho vai acabar por se afogar ( o mais tardar em Janeiro de 2014) nas águas de um Rio a subir ao sabor da maré de Belém. Para salvar o seu cadáver político, PPC vai ter de provar as passas do Algarve.