Em 2010, o Centro Cultural de Belém exibiu uma série de
filmes e documentários latino-americanos. Quase todos abordavam de uma forma
directa casos verídicos ocorridos durante a ditadura de Pinochet no Chile, a ditadura argentina, ou o Corralito. São filmes e documentários
muitas vezes filmados nas ruas e que fazem uma abordagem política de
tempos e factos que não devem ser esquecidos.
Por estes dias lembrei-me de um desses filmes que retrata a
forma como os trabalhadores argentinos reagiram ao encerramento selvagem de
empresas e fábricas durante o Corralito.
"Corazon de Fabrica" relata a história de um grupo de
trabalhadores que se recusou a cruzar os braços após o encerramento de uma fábrica
de cerâmica e partiu para a luta,
demonstrando que o capital mais importante de fábricas e empresas é o trabalho e não patrões e
empresários gananciosos. Como se demonstra neste episódio que
hoje aqui vos relato e surge na sequência do que já vos contei aqui
Ao contrário do que diz o Álvaro e confirma o Boca de Brioche, é possível garantir emprego sem patrões. O que não é possível é garantir produção sem trabalhadores! Senão vejam...
A fábrica de cerâmica Zanon, na província de Neuquén, no noroeste da Patagónia argentina, foi encerrada e abandonada pelos patrões em 2001.
Um ano depois, os 240 trabalhadores que tinham sido despedidos arrancaram os cadeados, ocuparam a fábrica e exigiram que o governo a nacionalizasse. A pretensão não surtiu efeito na Casa Rosada, mas os trabalhadores não desistiram. Formaram uma cooperativa a que deram o nome de FASINPAT (Fabrica Sin Patron) e foram à luta, pondo a fábrica novamente a laborar.
Desde 2002 o número de trabalhadores duplicou, os lucros aumentaram e a fábrica funciona melhor do que no tempo dos patrões. A batalha jurídica pela posse das instalações continua a correr nos tribunais, mas a legislação entretanto aprovada no Senado poderá contribuir decisivamente para ultrapassar o impasse.
Perguntar-me-ão alguns leitores, por que razão insisto em escrever aqui sobre sucessos de cooperativas de trabalhadores. Simplesmente porque acredito na via cooperativa e este ano de 2012 foi proclamado pela ONU "Ano Internacional das Cooperativas".