Pronto, senhor ministro, confesso que imbuído do espírito natalício da quadra que atravessamos, aceitei a cunha do “ Goebbels dos pequeninos” que recrutou para o seu gabinete e acedi a incluí-lo nesta caderneta de cromos, distinção que sei muito o honra. Entenda , pois, esta cedência como uma prenda de natal.
Seria injusto, no entanto, se não reconhecesse que o senhor tudo tem feito para merecer a distinção, com tiradas diárias dignas de o catapultar para o Guiness da cretinice, mas eu não sou muito apreciador de pessoas que se põem em bicos de pés para arranjar um lugarzito, mesmo numa caderneta de cromos, honrada e modesta como a do CR.
Ontem, porém, o senhor mostrou que merece ter um lugar nesta caderneta, saindo em defesa do grande chefe Coelho. Poderia Vocelência ter-se limitado a dizer que PPC ao aconselhar os professores a emigrar, "estava a cumprir o programa de governo do PSD que sempre apontou o crescimento das exportações como a única forma de Portugal crescer e sair da crise". Mas Vocelência é pequeno no tamanho, mas não na vozearia carnavalesca. Por isso foi mais longe e defendeu que as palavras do senhor presidente do conselho revelavam uma mundividência assinalável. Mais… o senhor foi claro ao dizer que quem não percebe o conceito de “universalidade” intrínseco ao modo de ser português,explícito nas palavras do sr PM, é conservador e tacanho.
Tem toda a razão senhor ministro. Foi a mundividência e visão do futuro que levou milhares de portugueses a emigrar nos anos 60 e o senhor vem agora propor, com uma assinalável visão, que os portugueses emigrem em massa para Moçambique para ajudar a construir o país ( e isto o senhor não disse, mas eu percebi nas entrelinhas) porque aqui não estão a fazer nada. São um estorvo que custa dinheiro aos cofres do estado. Eu também emigrei aos 20 anos e, se de alguma coisa me arrependo, é de ter regressado.
Confesso que fiquei siderado com o seu rasgo de inteligência e visão do futuro. “Se este país não tem nada para vos oferecer, porque é que não desamparam a loja e vão trabalhar, em vez de ficarem confortavelmente instalados a receber o subsídio de desemprego?” - depreendi, extasiado, ao escutar o seu discurso. Depois ainda teve o rasgo de aconselhar o Zé Manel ( o taxista dos jornais) a escrever um artigo onde apontasse as vantagens da emigração para os cofres do Estado, graças às receitas das remessas que não deixarão de entrar nos cofres da Pátria. Eu percebi a sua intenção, senhor ministro, mas incumbir o Zé Manel de fazer passar uma mensagem é o mesmo que pedir a um engraxador que nos pinte a casa. Relevo, no entanto, essa sua imprevidência e, com muito orgulho, incluo-o nesta caderneta de cromos.
O número que lhe calhou em sorte( O trinta e três) não foi dos mais felizes. Admito que tenha alguma dificuldade em pronunciá-lo quando quiser brilhar diante dos seus amigos anunciando a sua admissão a esta caderneta, mas tenho algumas sugestões para lhe dar:
- Diga que lhe calhou o número dos médicos;
- O número que fica antes do 34 e depois do 32
ou simplesmente "não me lembro", porque ninguém vai estranhar a sua falta de memória.