
Principalmente dedicado às leitoras mais jovens, este post pretende recordar a situação das mulheres 40 anos antes de Pedro Passos Coelho ter chegado a PM de Portugal.
No início doas anos 70, às mulheres, estava vedado o acesso a uma conta bancária ou ao passaporte, se para tal não obtivessem a necessária autorização do marido, ao qual era conferido o direito de lhes violar a correspondência.
No mundo do trabalho as enfermeiras, por exemplo,não podiam casar e uma professora era criticada se ousasse vestir de forma menos convencional. Bastava o uso de um vestido de seda, para que logo vozes se levantassem pondo em causa a sua conduta moral. Significativo, também, era o caso de as professoras só poderem casar com autorização do Ministro, sendo o candidato a cônjuge obrigado a demonstrar "bom comportamnto moral e civil e meios de subsistência consentâneos com o vencimento de uma professora".
Salazar, aliás, não hesitava afirmar que "o recurso à mão de obra feminina representa um crime" e que quando a mulher casada concorre com um homem por um posto de trabalho, "a instituição da família ameaça ruína".
Esta forma de pensar explica porque razão as mulheres não podiam montar um negócio sem autorização do marido, ou o Código Civil proibia a mulher de exercer uma profissão sem a anuência do cônjuge, situação que apenas se alteraria na segunda metade da década de 70, com a abolição da figura do “chefe de família”. E explica, também, porque razão as criadas de servir constituíam, nos anos 40, um exército de 200000 postos de trabalho (sem direito a quaisquer regalias e podendo ser despedidas a qualquer momento, bastando que os patrões assim o entendessem).
No início dos anos 60, na secção "Questões de etiqueta" da revista “Flama”, uma leitora perguntava se uma mulher podia usar cartões de visita individuais. Como resposta, recebeu a seguinte pérola:
"Não, a mulher casada tem de usar os cartões em conjunto com o marido". No entanto, os responsáveis da rubrica abriam uma excepção para o caso das mulheres solteiras ou órfãs "que vivam em casa própria". Essas, poderiam ter direito a usar cartão de visita, mas com duas importantes salvaguardas: NUNCA deveriam ter a morada, e as suas dimensões deveriam ser menores do que as dos cartões habitualmente utilizadas pelos homens.