
terça-feira, 29 de novembro de 2011
Conceição

Foram viver para o bidonville.Um dia um fotógrafo abeirou-se da menina, que tinha então seis anos e fotografou-a junto à barraca que habitava, segurando entre as mãos uma boneca. Revelada a foto colocou-lhe uma legenda: “La petite portugaise”.
A fotografia correu mundo, exibida em exposições, como ícone da emigração portuguesa nos anos 60. A menina, regressada a Portugal, tornou-se professora, esposa e mãe de três filhos. Cresceu ocultando de quase toda a gente a sua ex-condição de emigrante e as condições em que viveu durante a infância.
Quase 50 anos depois a menina viu a foto na Internet. O filho de uma emigrante que acompanhara a mãe na aventura de rumar a França descobriu-a acidentalmente e telefonou-lhe a avisá-la. Maria da Conceição reviu-se nela. Reconheceu a boneca que recebera em troca do seu silêncio e a bola de azeite (filhós) que tinha nas mãos.
Nesse momento a menina sentiu o desejo de conhecer o fotógrafo que fixara aquele instante e foi a Paris para se encontrar com ele. Ficou a saber que o fotógrafo- Gérald Bloncourt- era um haitiano emigrado como ela e, no encontro que então tiveram, Maria da Conceição recuperou o seu passado. Libertou-se e encontrou-se definitivamente com a sua história de vida.
Hoje no P2, - caderno diário do Jornal “ Público”- Maria da Conceição escreve uma carta a Gérald Bloncourt que é um “documento histórico” sobre a emigração portuguesa dos anos 60.Comovente, vibrante, momento (quase) raro que nos desperta os (bons) sentidos num frémito de emoções.
É nestes momentos que dou ainda mais importância à fotografia e ao significado que pode ter o registo de um instante na vida das pessoas. Depois, penso que se não fosse a Internet Maria da Conceição talvez nunca tivesse visto a fotografia, apesar de ela já ter estado exposta em Portugal várias vezes- a última das quais em 2009 no museu Berardo. Não fosse a Internet e talvez Conceição morresse sem conseguir reencontrar-se com o passado.
Finalmente, há jornais que nos reconciliam com a sua leitura e nos fazem dar por bem empregues o euro que custam. Ainda por cima em papel, permitindo-me guardar este testemunho para a posteridade.
( Na edição do Público on line, o artigo apenas está disponível para assinantes)
Cinzas

Quando morrer, quero ser cremado. Antes da crise, manifestei a pretensão de ver as minhas cinzas espalhadas no Rio da Prata, mas agora os meus desejos são mais modestos e terei de me contentar com a sua deposição no Douro, entre Pinhão e Barca d’Alva.
Não consegui foi ainda conformar-me com a possibilidade de ver o meu corpo reduzido a cinzas por força da ignorância , egoísmo e cegueira de uma bola com pêlos que, só por falar alemão, se julga no direito de incendiar a Europa- quiçá mesmo o mundo inteiro- condenando milhares de europeus a uma morte violenta.
De Durban a Lisboa - o vozear da ministra Cristas

Começou ontem, em Durban, mais uma Conferência da ONU sobre alterações climáticas. Um dos principais propósitos seria encontrar um acordo sobre um documento que substitua o Protocolo de Quioto, cujo “prazo de validade” expira no próximo ano.
Desde há muito que as expectativas em relação a estas cimeiras são reduzidas, mas o cenário internacional de crise económica e financeira, cerceia à partida qualquer possibilidade de registar avanços nesta matéria. Aliás, a solução avançada pelo G-77 vai no sentido de prolongar a vigência do protocolo de Quioto por mais sete anos, o que obviamente não é uma boa notícia, principalmente para os países emergentes, obrigados a tomar medidas restritivas que não são aplicáveis aos países mais desenvolvidos. Provavelmente, para se chegar a um consenso e poder anunciar acordos de última hora, que serão rotulados por todas as partes como um sucesso, a solução vai ser aliviar os países emergentes da aplicação das medidas que os penalizam. Entretanto,a China e os Estados Unidos- os países mais poluidores- continuarão a não acatar o protocolo de Quioto que sairá de Durban ainda mais enfraquecido nos seus propósitos e os países mais pobres e sujeitos às consequências das alterações climáticas, continurão a agonizar, perante a indiferença dos capatazes do mundo.
Assim, pode dizer-se que a realização da cimeira de Durban apenas servirá para lançar mais umas toneladas de CO2 para a atmosfera, consumidas nas viagens dos participantes e nos consumos gastronómicos extraordinários que sempre marcam estes areópagos internacionais. Gastar-se-á também muita energia e papel, com os consequentes efeitos conhecidos para a delapidação dos recursos naturais. A hotelaria e restauração da pouco interessante cidade de Durban serão, possivelmente, as únicas beneficiárias da realização desta Cimeira previamente condenada ao fracasso.
Como sempre acontece, nas vésperas destas reuniões, o responsável pelo pelouro do Ambiente em Portugal , aproveita a oportunidade para esganiçar a voz e anunciar umas medidas vagas que recolhem algum eco na comunicação social lusa, mas rapidamente caem no esquecimento.Este ano coube à ministra Cristas anunciar as medidas do governo luso e, desta vez, gostaria que não se concretizassem, pois o que a ministra propõe é acabar com o investimento nas energias renováveis, uma área que tem sido nos últimos anos alvo dos maiores elogios pela comunidade internacional. Segundo a ministra, o propósito do governo é investir em mais eficiência energética, mas não adianta como o fará.
Como já estou habituado a que este governo opte sempre pela via mais fácil- penalizar os consumidores- prevejo que lá para meados de 2012 seja anunciado um forte agravamento dos custos energéticos que afectará de forma drástica as contas de gás e electricidade. O passo seguinte, será Passos Coelho convocar ao seu gabinete os amigos Patrick Monteiro de Barros e Sampaio Nunes, para lhes anunciar que está na hora de lhes dar o aval para a já prometida central nuclear.
Sobre a arte de congelar
Quem foi o tipo que anunciou que os concursos na administração pública estão congelados? Quem souber diga-me, para eu lhe poder chamar mentiroso ou, em alternativa, oferecer um dicionário para ele aprender o significado de congelar .
Outra alternativa é enviar-lhe exemplos de concursos que continuam a ser feitos na AP.
O outro Fado
O reconhecimento do Fado como Património Imaterial da Humanidade distingue também o Fado de Coimbra. Exceptuando o Pedro... Coimbra! ainda não li qualquer referência a esse facto na blogosfera, nem na comunicação social.
Eu nem sou apreciador do fado de Coimbra, mas é justo que aqui faça uma referência a esse género musical que parece ter sido esquecido na altura do reconhecimento da UNESCO.
Fico a aguardar as vossas opiniões...
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