
Estive sem saber notícias de Portugal durante 19 horas.
Esta manhã, ao acordar, li que a "troika" respondeu ao pedido de Cavaco e do PS para que haja mais equidade social, recomendando a redução dos salários também no sector privado;
Diogo Infante disse que não tinha dinheiro para manter a funcionar o D. Maria II e o secretário de Estado do Trotsky de Massamá demitiu-o;
Pedro Passos Coelho foi a Angola pedir aos empresários para participarem no leilão das privatizações, porque não quer ficar demasiado dependente do Brasil;
Depois de o governo anunciar que as autarquias poderiam contratar mais funcionários, a troika quer o despedimento de 3% dos trabalhadores autárquicos;
Governo admite rescisões amigáveis na função pública. (Conhecendo o apreço deste governo pelos funcionários públicos presumo que amigável seja pagar 6 meses de ordenado e dizer passem bem, se tiverem reclamações, queixem-se à troika);
Enquanto corta no pessoal, nas verbas para a saúde, educação e segurança social, o governo mostra os bícepes, faz músculo e reforça a verba para contratação de polícias;
António Borges, dilecto de Cavaco e Ferreira Leite, demite-se inesperadamente do FMI alegando questões do foro pessoal. Terá comprado um bilhete de avião para Lisboa?
Cheira-me a esturro... a Laura terá deixado queimar as medialunas?
Duarte Lima foi detido por causa de qualquer coisa relacionada com o BPN (não sei se a esta hora já estará de novo em liberdade por razões de saúde) um caso de que já me tinha esquecido.
Como não li nada sobre o assunto,presumo que Isaltino continue a fazer despachos no seu gabinete da Câmara de Oeiras.
Apuro o ouvido. Ainda não oiço tiros na Plaza de Mayo, nem manifestações na 9 de Julio, mas Menem continua a afirmar na Rádio e Televisão Nacional que o governo está confiante e os argentinos podem estar tranquilos, porque o peso é uma moeda forte.
Uns senhores do FMI aterram em Ezeiza, anunciando que têm a cura para a Argentina voltar a ser um país próspero. O peso deve deixar a paridade com o dólar e ser desvalorizado em 75%.
Os argentinos começam a agitar-se. Há quem ensaie uma espera à porta do Hotel onde os corvos estão hospedados. Grupos organizados começam a assaltar supermercados e outros estabelecimentos. Formam-se gigantescas filas às portas dos bancos, as pessoas querem salvaguardar os seus depósitos. Há tumultos esparsos, manifs espontâneas em frente à Casa Rosada- sede do governo. Menem está em parte incerta.
Vou à janela. Afinal não estou em Buenos Aires em Dezembro de 2001. Estou em Lisboa, em Novembro de 2011, mas da janela do meu quarto vejo o António Borges a desembarcar na Portela. Traz uma pasta debaixo do braço. Presumo que seja um dossiê sobre o "corralito".
António Borges é amigo de Cavaco, tal como Duarte Lima, que é ex-protegido de Ângelo Correia, por sua vez padrinho político de Passos Coelho.
Nos últimos dias Cavaco deixou de criticar a falta de equidade do OE, Borges regressa a Lisboa, no dia em que Duarte Lima é preso e Passos Coelho entronizado pela troika, como agradecimento pelos bons serviços prestados. Em Belém não gostaram. Como o povo é sereno, abrem-se os aspersores de Belém para regar o laranjal.
Olho para uma foto que tenho em cima da mesa de trabalho. É de Palermo. Não o bairro de Borges em Buenos Aires, mas sim a capital da Sicília. Continuo em Lisboa, no rescaldo da noite das facas longas. Acordei da sesta com fome.
Vou comer medialunas com um mate. São servidos?