
Hoje em dia o trânsito é regulado por semáforos que comandam veículos e peões. Como são máquinas, há muitos condutores que desrespeitam o sinal vermelho e, quando o verde passa a amarelo, em vez de abrandarem como manda o Código da Estrada, aceleram na tentativa de passar antes de cair o vermelho. Muitas vezes não o conseguem e o acidente é inevitável.
Já perdi um amigo que, regressando a casa de madrugada, confiou demasiado na sorte e morreu. Nessa altura os semáforos eram uma invenção recente e o trânsito nocturno no Porto diminuto. Por isso, ao passar no Marquês de Pombal, no Porto, pensou que àquela hora não devia vir nenhum carro e, em plena aceleração, passou com o sinal vermelho.
Dizem que “O destino marca a hora” e a hora dele devia estar marcada, porque da Rua da Constituição vinha outro carro que vendo o sinal verde avançou afoitamente e a colisão foi inevitável. Os semáforos deviam ser respeitados - por condutores e peões - tão escrupulosamente como a sinalética dos antigos reguladores de trânsito.

Chamavam-se polícias sinaleiros, também conhecidos entre jovens e menos jovens pelo nome carinhoso de
chapéus de giz, pelas razões que a foto documenta. Todos respeitavam as suas ordens, sob pena de apanharem uma valente multa e ficarem com a carta apreendida. Hoje em dia, em certos cruzamentos onde o trânsito é regulado por semáforos existem câmaras de vigilância que permitem detectar o infractor, em caso de acidente. Mas não é a mesma coisa…Dir-me-ão que com o trânsito urbano caótico dos dias de hoje é impossível regular o trânsito com sinaleiros. Concordo em absoluto, mas isso não invalida que tenha saudades do tempo em que havia polícias sinaleiros. Uma profissão que a maioria dos sub-30 desconhece, ou apenas viu em fotografias.
O sinaleiro era mais justo que o semáforo. Hoje em dia, nos semáforos com temporizadores, podemos verificar que aos peões é dado para atravessar a rua, um terço do tempo que é dado ao condutor para atravessar o cruzamento. E mesmo quando o sinal está verde, os peões têm de se acautelar, pois não são raras a as vezes em que os automobilistas, vendo o sinal verde, mudam de direcção sem cuidar de saber se o sinal para os peões está encarnado ou verde.
Os semáforos têm outra desvantagem: são estáticos. Já o polícia sinaleiro era um animado regulador de trânsito que sabia escolher o semblante carregado ou uma postura mais descontraída, consoante as ocasiões.
Ainda recordo a coreografia que alguns ensaiavam em cima das peanhas onde se colocavam para dirigir o trânsito. Alguns eram verdadeiros mestres na arte gestual que ensaiavam , esforçando-se por dar prioridade equitativa ao automóvel e ao peão. Não raras vezes juntavam-se nos passeios por autênticas multidões para os observar e- imagine-se- chegavam a aplaudi-los!Digam lá… imaginam alguém a aplaudir um semáforo quando passa de vermelho a verde, ou vice –versa?