
No início da última década do séculoXX vimos nascer o bébé 5 mil milhões, acabámos o século a festejar o nascimento do 6 mil milhões e hoje deverá ter nascido, na Índia, o bebé 7 mil milhões.
Em cada segundo nascem três crianças, o que equivale a dizer que se o crescimento se mantiver constante, dentro de 50 anos a população mundial terá duplicado, implicando problemas acrescidos, para os quais a sociedade não se tem preparado.
O problema começou a colocar-se apenas a partir da década de 70, tendo assumido foros de grande preocupação na última década do século XX.Tema em debate na Conferência do Rio de Janeiro em 1992, foi depois motivo de uma Cimeira no Cairo, onde estiveram em confronto duas teses distintas.
De um lado, aqueles que consideram inaceitáveis propostas de controlo de natalidade, por razões éticas, religiosas ou de segurança que refutam o estabelecimento de relação directa entre crescimento demográfico e degradação ambiental.Do outro lado, aqueles que defendem a tomada de medidas urgentes que visem a redução da natalidade, para evitar mais pobreza e consequente degradação ambiental.Os defensores destas soluções mais radicais, argumentam com um estudo do Fundo das Nações Unidas para a população que aponta para que 83% do crescimento demográfico previsto ocorra nos países do Terceiro Mundo, onde a situação de pobreza é, já hoje, alarmante.
Atente-se, por exemplo, que dos mais de1200 milh›es de pessoas vivendo em estado de pobreza (cerca de 1/5 da população) 797 vivem na Ásia e 373 em África. Assim sendo- acrescentam- como não é possível esperar que as pessoas famintas tenham consciência ambiental para proteger os recursos naturais, se não forem tomadas medidas restritivas em relação à natalidade, estaremos a caminhar deliberadamente para o caos e a aumentar o exército de famintos no Mundo inteiro.
Um aumento incontrolado da população na Ásia e em África irá, na opinião dos defensores das medidas restritivas, provocar o incremento da emigração para os países ricos com as consequências inevitáveis, como o aumento do consumo dos recursos energéticos e uma maior pressão sobre os recursos naturais, sem que se verifique o correspondente aumento da produtividade, geradora de novos recursos.
A polémica não é pacífica e, na opinião de alguns especialistas, ambas as teses precisam de ser completadas com novos elementos. Seja como for, a verdade é que o crescimento demográfico é um problema que não pode ser equacionado colocando, como ponto de partida, o problema nas pessoas, pois se assim fosse cairíamos no risco de o passo seguinte constituir na eliminação dos elementos improdutivos (velhos,crianças,etc) o que significaria o descalabro total.
Mais uma vez o que está em causa, são problemas económicos e de organização social que têm que ser resolvidos. É que lidar com uma população de 2000 milhões de desempregados, ( cerca de 1/3 da população mundial) dentro de duas décadas, não será tarefa fácil...
Outra questão é tentar perceber em que medida as políticas demográficas seguidas em países como a China - desvalorizando a mulher- contrariam a sua crescente influência nas sociedades evoluídas. Em países como a China e a Índia, há falta de mulheres, enquanto nos países em desenvolvimento as mulheres retardam cada vez mais a maternidade, para não prejudicarem a sua vida profissional.
Ambas as situações contribuíram, em certa medida, para o envelhecimento da população mundial, problema que se pode estender dentro de algumas décadas a África, onde a consciencialização da mulher a levará a ser mais responsável em matéria de natalidade.
Deixo aos leitores este texto, como proposta de reflexão sobre as diversas equações possíveis perante a realidade do crescimento demográfico.
Adenda: reeditado e actualizado, de um artigo que publiquei em 1999, na revista "o Consumidor"