
A primeira coisa que saltou à vista na conferência de imprensa de Vítor Gaspar, é que o Orçamento para 2012 é profundamente ideológico: espreme os rendimentos do trabalho e cria algum desafogo no sistema financeiro. Nada que não se esperasse.
No entanto, fiquei preocupado com o silêncio do ministro das finanças, em relação a algumas perguntas que se escusou a responder, argumentando que não respondia baseado em cenários.
- O governo, em três meses, já actualizou em alta a recessão para 2012 por três vezes. Será mais do que realista que em breve um novo cenário seja apresentado. Recusou , no entanto, responder sobre as medidas que tomará se a recessão atingir ou ultrapassar os 3%. Os trabalhadores do sector privado que se cuidem, porque lá para meados do ano, ser-lhes-á aplicada uma taxa adicional de IRS…
- Quanto aos funcionários públicos, confirma-se o que eu ontem previra. O corte nos subsídios de Natal e de férias irá para além de 2013. O que me surpreendeu foi o cinismo de Vítor Gaspar, ao dizer que o corte será temporário ( porque se não fosse seria ilegal…) mas prolongado!
- O desemprego aumentará em 2012, atingindo os 13,5%
- Para além de mais meia hora de trabalho diário, o ministro não apresentou qualquer outra medida de incentivo ao crescimento da economia.
- Quanto a cortes de despesa de funcionamento? ZERO mas, tanto quanto percebi, para o off shore da Madeira estão disponíveis 1,2 milhões de euros.
- E já agora, quanto a medidas para a Madeira, o ministro fechou-se em copas, adiando ( talvez para as calendas gregas) o seu anúncio.
- O aumento da carga fiscal será feito através de impostos directos sobre produtos e serviços, mas também por via indirecta, como a redução das deduções no IRS com despesas de saúde e educação. Já as deduções sobre as prestações com a amortização irão sendo reduzidas gradualmente, até serem totalmente eliminadas em 2016.
- Crescimento económico para 2013? Talvez uma coisa próxima de 1% se as coisas correrem bem, mas não me comprometam e falem com o ministro Álvaro.
E pronto… com aquele ar sonso que o caracteriza, o ministro explicou, durante 90 minutos, como ia fazer o país regressar ao nível de vida de 1975 .
Há muitos portugueses insatisfeitos porque as medidas ainda não são suficientemente brutais. Para as coisas ficarem como deve ser, devíamos regressar a 1967.