
Ainda não disse que os seniores viajam de fato e gravata, o que na sua idade é, normalmente, um código indicador de que têm emprego. São empregados por conta de outrem, caso contrário viajariam em viatura própria. Noutros tempos, quando eram jovens, romperam com os ditames da moda, inventaram um novo estilo de vestuário que não respeitava códigos. Adultos e bem instalados na vida recuperaram os códigos dos pais.
Os jovens vestem de forma diferente. Um deles usa fato e gravata e um discreto piercing no lóbulo esquerdo. Cabelo cuidadosamente penteado, calças com vincos bem definidos e sapatos brilhando.O outro usa jeans, sapatilhas e uma t-shirt estampada debaixo de um blusão. No pescoço, emerge a ponta de uma tatuagem. Ambos levam consigo computadores portáteis.
Os seniores são filhos de uma geração que utilizava códigos de vestuário que estratificavam as pessoas social e profissionalmente. Talvez por isso vistam fatos cinzentos muito semelhantes e gravatas discretas, numa concessão à memória dos pais.
Os jovens já não pertencem a esse mundo. A forma de vestir deixou há muito de ser um código massificado, cada um veste-se de acordo com o seu gosto pessoal. O piercing, a tatuagem e o computador portátil que ambos transportam, não deixam, no entanto, de ser códigos. Os dois vão trabalhar. Quiçá na mesma empresa, até no mesmo departamento e talvez partilhem um gabinete. No entanto, cada um criou a sua individualidade , o seu “eu”, sem necessidade de uma manifestação grupal e distintiva.
Na época da sociedade de consumo de massas, em que cresceram e viveram aqueles seniores, a moda ditava as regras em cada estação do ano. Na sociedade do hiperconsumo e da hiperescolha, em que vivem estes jovens, são eles a ditar as regras, transmitindo sinais ao mercado sobre as suas expectativas e exigências.
Foi assim que a moda se segmentou em nichos de mercado, procurando agradar a todas as clientelas, satisfazendo todos os gostos, mesmo os mais bizarros. Quando os seniores eram jovens, não havia moda de roupas para grávidas ou obesas, para bebés ou velhos. O fato de treino era exclusivo dos atletas e as roupas explorando a sexualidade feminina eram (quase) exclusivamente destinadas às “teenagers”.
Hoje em dia, quem tentar analisar alguém através dos códigos de vestuário, corre o risco de cometer sérios erros. Os códigos não são, no entanto, exclusivos do vestuário e adereços. Existem nas actividades de lazer e culturais, nas opções alimentares, na forma como decoram os espaços, nas opções de férias, na forma como cuidam do corpo e, essencialmente, na forma como se relacionam com os outros.
(Continua)
Sugestões de leituras complementares: Hoje proponho esta leitura para os homens
Para quem se interessar sobre questões da moda, recomendo a leitura dos posts 111 a 116 do Rochedo das Memórias