
Sempre fui apaixonado por fotografia, mas nunca fui grande fotógrafo. A minha paixão começou a desvanecer-se quando deixei de poder revelar as minhas fotografias em casa mas, mesmo assim, guardo em álbuns alguns milhares de fotos que fui acumulando pelos 98 países que já visitei.
Quando começou a febre do digital experimentei, mas não fiquei fã. Reconheço todas as suas vantagens, mas mantenho uma relação muito estreita com as máquinas fotográficas que me têm acompanhado ao longo da vida.
A última foi-me oferecida há mais de uma década e desde então tornou-se minha companheira inseparável. É uma Olympus XPTO que custou uma pipa de massa e usa rolos Advantix. Para quem não saiba, esses rolos permitem tirar fotos em três formatos, o que é uma mais valia apreciável. A grande contrariedade, nos últimos tempos, era a demora na revelação. Três dias, no mínimo.
Há uns meses manifestei a minha estranheza na loja onde mando revelar e gravar as fotos em CD, por ser necessário um prazo tão alargado para revelar as fotografias, porque ainda há um ano bastavam duas horas para ter as fotos reveladas e gravar o CD não demorava mais do que um dia. Deram-me uma explicação que já não recordo bem, mas me deixou a pensar na necessidade de aderir ao digital, porque nem sempre os trabalhos que faço se coadunam com tempos de espera tão demorados.
Quando estive de férias, em Junho, levei uma máquina digital, mas senti de tal maneira a falta da minha Olympus, que durante a ida ao norte optei por levá-la outra vez comigo. Senti-me bem e prometi-lhe que não me voltaria a separar dela.
Quando mandei revelar as fotografias disseram-me que as podia ir buscar no seguinte e o meu rosto abriu-se num sorriso de orelha a orelha. Mas logo franzi o cenho, quando o proprietário do estabelecimento me disse:
“Tenho uma má notícia… os rolos Advantix deixaram de se fabricar.”
Perguntei porquê, mas o homem também não me soube dar uma explicação. Tinha recebido a informação da Kodak e da Fuji de que a partir de Junho não forneceriam mais rolos, porque tinham deixado de os fabricar. Sem explicações… Ele também não percebia, porque era um material que se vendia bem, apesar da crescente opção dos clientes pela fotografia digital.
No dia seguinte andei por Lisboa à procura de rolos Advantix. Consegui abastecer-me de alguns com validade até 2013, mas nas lojas onde entrei avisaram-me que era a última remessa. Ninguém tinha explicações para a decisão simultânea da Kodak e da Fuji suspenderem o fabrico dos Advantix. Até porque os outros filmes, de tecnologia menos apurada, continuam a fabricar-se...
Eis-me agora, com uma máquina fotográfica nas mãos sem qualquer serventia, entrada em obsolescência, por decisão inexplicável da Kodak e da Fuji.Contrariado, serei obrigado a render-me ao digital e a catalogar a minha Olympus como peça de museu.
O mais curioso é que tenho uma Leica de 1926, com rolos de carretos, como a que podem ver na imagem, para a qual ainda é possível encontrar rolos à venda no mercado!
Vá a gente perceber estas decisões…