Fotografia de Majoca, seleccionada para o Google Earth
Tarde de sábado. No Alentejo, sente-se o calor que tem andado arredio do litoral. Estamos perto de Portalegre e, ao final da tarde, empreendemos uma visita à cidade. Estaciono no Rossio e começamos a subir até ao castelo, onde a câmara fez um grande investimento.
Vamos fazendo a escalada ( pouco íngreme) , trocando dois dedos de conversa aqui e ali. À falta de indicações, pergunto a um ancião, em gozo dos favores de uma sombra, se vamos no bom caminho. Afirmativo. Temos sede. Aproveito para perguntar se há alguma esplanada no castelo.
" Não me parece! Já houve lá várias, mas faliram todas. Quem é que vai almoçar ao castelo aqui em Portalegre?"
- "Então e os turistas?"
Sorri...
"Se estivéssemos à espera dos turistas morríamos de fome...isto aqui não há nada p'ra ver"
Dou-lhe razão. A cidade evoluiu muito pouco desde o tempo em que lá vivi, durante três meses, nos anos 70. Parece que o tempo por ali parou. Continuamos a subir. Cruzamo-nos com uma família espanhola e, num cotovelo da rua, com duas jovens escandinavas em sentido descendente.
Avistamos uma estrutura em madeira e vidro, que me parece de extraordinário mau gosto. Estamos no castelo. Como algumas mulheres meticulosamente maquilhadas, ao longe o castelo parecia mais bonito... a maquilhagem modernaça, principalmente quando vista de perto, desfeia-o e rouba-lhe fulgor. A visita, no entanto, valerá a pena porque de lá se podem desfrutar belas vistas.
Chegamos à porta do castelo. São 18h15m. Está fechado! Horário de funcionamento da parte da tarde? Das 14 às 18!
(Ó senhor presidente da Câmara! Acha que alguém vai visitar o castelo nessas horas num dia de Verão? Talvez aquela estrutura de madeira e vidro - que me faz lembrar a marquise da rua do Possolo- tenha ar condicionado, mas visitar um castelo, como se estivesse a viajar dentro de um casulo, não me parece boa ideia...)
Um casal de turistas, cuja nacionalidade não conseguimos identificar, mostra o seu desalento. Perscruta um mapa, quiçá pensando numa alternativa a onde ir.
Descemos outra vez até ao Rossio. Alguns velhos conversam à sombra de um plátano secular,em diálogos compassados. Sentamo-nos numa esplanada a tomar uma bebida.
Chegam três carros topo de gama: Mercedes, Audi e TT. Por esta ordem. De lá de dentro saem pessoas cuja indumentária sublinha, a cintilantes traços de ouro, a sua classe social. Dirigem-se para a Igreja. Provavelmente, para assitir à Missa. São todos de meia idade, deveriam ter pouco mais de 20 anos quando os cravos floriram numa longínqua manhã de Abril.
Acabamos a bebida. Regressamos a casa cantarolando canções de Abril, já o sol se começa a esconder no horizonte. Que nem para todos se abriu, apesar de Abril...