
O nome pouco importa, mas chamemos-lhe Luísa.
Trabalhadora dedicada numa fábrica nos arredores de Lisboa, há mais de uma década, começou há cerca de um ano a queixar-se de insuportáveis dores que lhe tolhiam os movimentos e quase a impediam de andar. O facto de trabalhar sempre em pé, entre oito e doze horas diárias e muitas vezes ao fim de semana, agravavam o problema.Um dia, o chefe convenceu-a a ir ao médico.
A empresa tem um seguro de saúde para os seus trabalhadores ao qual Luísa recorreu. Chegada ao hospital (privado) o diagnóstico foi rápido: hérnia discal. Estávamos em Dezembro e rimava com Natal, mas Luísa não foi bafejada com a bênção do menino Jesus, como adiante se verá.
Dois meses de tratamento depois as dores não abrandavam e o médico decidiu que teria de ser operada. A intervenção cirúrgica foi marcada para Março. Uma semana antes da data aprazada, Luísa foi à consulta. Ia trémula, porque a ideia da operação a assustava, mas saiu de lá com um sorriso de orelha a orelha. O médico disse-lhe que afinal não tinha de ser operada. Ia fazer um novo tratamento que lhe aliviaria as dores e dispensava a operação.
Nos meses seguintes as dores persistiram. Continuava a ir semanalmente às consultas, queixava-se, mas o médico insistia que devia ter paciência. Seria uma questão de tempo, mas ia ficar boa sem ser necessário recorrer à operação.
Luísa regressou a casa visivelmente feliz, elogiando a dedicação do médico e enaltecendo os serviços do hospital. Não que ela tivesse queixas dos hospitais públicos-bem pelo contrário- mas aquele hospital era um "luxo e tratava os doentes como deve ser".
No início de Junho, quando entrou no consultório do médico ele recebeu-a com ar grave. No hospital ( privado, repito) tinham-lhe trocado os exames. A operação era inevitável e devia ser feita urgentemente. Luísa perdeu por momentos o sorriso, mas ficou aliviada com a ideia de que se ia ver livre das dores que a atormentavam.
Marcada a operação para o dia 15, Luísa apresentou-se no hospital à hora marcada. Surpresa! Não seria operada, porque se tinham "esquecido" que naquele dia não tinham anestesista. Marcaram nova data para a intervenção: dia 28…
Entretanto, a empresa vai pagando o seguro e continua privada de uma trabalhadora.
(Há dias, o Observatório da Saúde divulgou um relatório aterrador sobre os atrasos no atendimento nos hospitais públicos. Um estudo com resultados à medida das intenções de Pedro Passos Coelho, que pretende privatizar a saúde. Vários hospitais reagiram, refutando as conclusões do Observatório e apontando várias irregularidades. Ameaçam mesmo recorrer aos tribunais, para que seja reposta a verdade. Luísa continua à espera de uma operação, cujo atraso e peripécias não constam do estudo do Observatório da Saúde ).
A história é verídica e, quando regressar de férias, espero poder dizer-vos que Luísa foi operada com sucesso e está restabelecida.