( Continuado deste post)
Fazer filhos é mais ou menos fácil. Se não for por métodos naturais, a ciência normalmente resolve.O problema é educá-los.
Com inusitada frequência assisto a casos de pais que se demitem completamente dessa função, não sendo raros os que acusam os professores do seu falhanço.
A função de um professor não é educar os alunos. É formá-los. Não se pode pedir a um professor que corrija na escola as deficiências educativas que as crianças trazem do seio familiar. Não é que muitos professores não tenham essa capacidade, mas não se pode exigir-se-lhes que se substituam aos pais. Todos sabemos o que acontece a um professor se der um tabefe a um aluno mal educado…
A maioria dos pais olha para os seus rebentos como seres únicos, irrepetíveis e intocáveis. Penso que isso acontece porque passam pouco tempo com eles e, como forma de se desculpabilizarem da ausência, cumulam-nos de honrarias e desleixam a educação.
Um pedido de um filho é, hoje em dia, uma ordem. São os filhos que orientam os consumos familiares, invertendo a ordem natural das coisas.Muitos pais não sabem dizer não. Ou por falta de coragem, ou por vergonha. Quando a criancinha recebe a recusa de um novo gadget, não se ensaia para acusar os pais de pelintras “porque todos os miúdos na escola têm”. Muitos pais, claro, cedem à chantagem.
Já vos contei aqui, em tempos, o caso de um miúdo de 18 anos que ameaçou a mãe de morte, se ela não lhe desse um automóvel. Multiplicam-se, na comunicação social, notícias de miúdos que batem nos progenitores e casos de violência na escola. Estes comportamentos são transversais na nossa sociedade, não são apanágio de uma única classe social.Conheço várias mães que sofrem alguns enxovalhos públicos, porque querem preservar os seus filhos de alguns riscos. Só um caso elucidativo…
A mãe de uma miúda de 10 anos não permite que a filha tenha conta no FB e controla rigorosamente o tempo e as buscas que ela faz na Internet. Não tem tido tarefa fácil. Não por causa da miúda, que aceita a imposição materna, mas sim pela reacção social. Que começa logo na família, onde a apontam a dedo como sendo bota de elástico. Mãe e miúda são alvo de chacota dos primos e não deve ser fácil lidar com a situação.
Ter um filho não é o mesmo que ter aqueles brinquedos com que sonhávamos na infância e que, depois de aterrarem no nosso quarto, encostávamos a um canto, quando nos cansávamos dele. Os pais não se podem eximir da sua função de educar, reagindo como as criancinhas que, depois de convencerem os pais a exilar um cachorrinho num andar,arranjam mil desculpas para se desvincularem do compromisso assumido, remetendo para os adultos essa tarefa.
O argumentário da vida acelerada e do excesso de trabalho não colhe. Os bons pais ( e mães, obviamente) arranjam sempre tempo para educar os filhos.
Não haverá, certamente, razões para acreditar que a escalada da irresponsabilidade educativa se irá prolongar nas gerações futuras. É dos livros que irão rejeitar dar aos filhos a mesma educação que receberam. Serão mais severos.
O que me preocupa é saber como irão lidar os pais desta geração habituada a ter tudo, quando tiverem de dizer
NÃO aos filhos. Como lhes vão explicar que não têm dinheiro para lhes comprar aquele
gadget? E como reagirão os filhos perante o
NÃO justificado por dificuldades financeiras?Ainda que esporadicamente, a comunicação social vai-nos dando respostas, noticiando casos concretos. Mais do que uma crise financeira, estamos a atravessar uma crise de valores.
Isso, sim, é preocupante. E quem pensar que tudo isto não está ligado com a violência crescente entre jovens, certamente andará um pouco distraído.