
Decorrerá em Hong –Kong, de 3 a 6 de Maio, o Congresso da Consumers International (CI) organização que congrega associações de consumidores de todo o mundo.
É a segunda vez que o Congresso da CI se realiza em Hong- Kong- a primeira foi em 1991- e, nestes 20 anos, as preocupações dos consumidores alteraram-se profundamente, sendo de esperar que em Hong-Kong as organizações de consumidores não deixem de fazer um cotejo entre as questões suscitadas na altura e aquelas que agora centram as suas atenções.
Os serviços financeiros, o comércio electrónico, o consumo responsável e o consumo ético, ou o conceito de consumidor cidadão, temas centrais do Congresso de Maio, estiveram ausentes da discussão no início da década de 90 do século passado porque… eram apenas temas em embrião.
Por outro lado, se em 1991 se discutia a emergência das economias asiáticas e as transformações no Leste Europeu, como factores determinantes para um novo paradigma de consumo à escala global, duas décadas mais tarde, o desenvolvimento económico dos BRIC ( Brasil, Rússia, Índia e China) a que recentemente se juntou a África do Sul, não deixará de animar, certamente, o debate entre associações de consumidores, governos e instituições internacionais.
Desde 1987 que acompanho este evento que este ano tem a particularidade de se realizar num período em que os consumidores são acusados, pelos governos e entidades que os incentivaram ao endividamento, de serem os responsáveis da crise.
Não se pode ignorar o cinismo desta acusação. Os consumidores são o motor da economia e foram eles que geraram as grandes fortunas e enriqueceram as instituições financeiras. O mínimo que seria exigível aos governos era a protecção dos seus direitos. Mas não foi isso que os governos fizeram. Queimaram-se neurónios a fazer leis que não se aplicam, reduziu-se a defesa do consumidor a uma luta entre consumidores e prestadores de serviços, cuja resolução assentaria na aplicação de leis reguladoras e esqueceu-se o essencial: as questões do consumo, hoje em dia, travam-se fundamentalmente no âmbito da ética e da sociologia do consumo, onde a educação e informação do consumidor desempenham um papel determinante.
Enquanto não se perceber isso, continuaremos a recuar até ao século XIX, à espera que uns novos tecelões de Manchester encontrem uma forma organizativa capaz de enfrentar o livre arbítrio do poder dominante nas relações comerciais e nas operações financeiras.
Os instrumentos e os meios para esse combate e essa nova forma organizativa dos consumidores, podem ser dados pelo Comércio Justo, pelo consumo ético, pela capacidade regenerativa da Economia Social. O sucesso inicial que favoreceu a ascensão das associações de consumidores apoiadas pelos governos - não raras vezes num convívio promíscuo- conduziu a um monopólio ideológico em matéria de defesa do consumidor, responsável pelo estiolar de formas de organização alternativas, capazes de dar resposta a problemas sectoriais do consumerismo.
Chegou a altura de os consumidores reinventarem as relações de consumo, discutindo não apenas os modelos produtivos e os meios alternativos de acesso à justiça mas, também, os mecanismos financeiros e de distribuição de que ficaram reféns.