Na semana passada, os BRICS ( países emergentes a que agora se juntou a África do Sul) reuniram-se para traçar uma estratégia comum que os ponha a cobro de uma nova crise global que, embora a muitos custe admitir, pode estar aí ao virar da esquina.
A voracidade dos mercados é insaciável e se os governos dos países mais poderosos não puserem um travão a esta escalada, um dia destes o mundo será totalmente dominado pelos agiotas que controlam o mercado e obrigam o poder político a ajoelhar-se perante as suas exigências.
Enquanto leio no Financial Times um artigo sobre as decisões tomadas na reunião dos BRICS, interrogo-me sobre as razões que impediram os PIGS de se unirem numa estratégia comum de combate aos especuladores que os vão derrubando sem dó. A resposta que me ocorre é perversa. Cada um esteve à espera que a queda do vizinho o livrasse de aflições. Acreditaram, ingenuamente (?), que depois de abocanharem uma ou duas vítimas, os mercados financeiros se acalmariam e cada um tratou de se colocar a salvo, à espera que a desgraça se abatesse sobre o vizinho.
Como seria de esperar, aconteceu o inverso. Por cada país subjugado às suas exigências, os agiotas vão em busca de uma nova vítima. Como o velho Pacman, só descansarão quando devorarem o mundo inteiro e subjugarem os governos às suas leis. Eles sabem que na Europa o poder político é fraco e está dominado por corruptos sem um pingo de ideologia ou de vergonha. Fingiram jogar o jogo da democracia, à espera do momento ideal para a atacarem. Aconteça o que acontecer, na próxima década, são eles os grandes vencedores. As democracia estiolaram perante a passividade dos cidadãos obnubilados com o prazer de consumir, que lhes coarctou a capacidade de pensar e agir e, agora, talvez só um poder forte seja capaz de combater os agiotas e alertar as consciências adormecidas.
O preço que os europeus terão de pagar para recuperar a sua dignidade e se libertarem do jugo dos mercados, passará pela renúncia à democracia?