
Hoje pensei assistir à entrevista de Sócrates na RTP 1. Infelizmente, o meu televisor estava avariado e, quando tentava sintonizá-lo na RTP, ele teimava em ir parar à S. Caetano, onde dois jornalistas também entrevistavam o Primeiro-Ministro.
Vítor Gonçalves, autor do livro “A Agenda de Cavaco Silva”, veio de Washington- onde foi colocado após a vitória de Cavaco em 2006. É um jornalista com tarimba parlamentar, foi editor de política da RTP, aceitou recentemente o convite de Nuno Santos para director-adjunto de informação da RTP 1 e desempenhou bem o seu papel de entrevistador.
Já Sandra Sousa, uma moderadora fraquinha do “Corredor do Poder,” revelou-se um desastre como entrevistadora. Não só interrompia constantemente o entrevistado, como atropelava Vítor Gonçalves que, diversas vezes, se viu obrigado a mandá-la calar-se.Pior ainda, revelou uma confrangedora falta de preparação que roçou a ignorância. Sócrates não perdeu a oportunidade para lho lembrar, saindo diversas vezes por cima, em questões delicadas. Deve ter terminado a entrevista corada de vergonha. Volta, Judite, estás perdoada...
A insistência dos entrevistadores em querer saber se Sócrates pensava pedir ajuda externa antes das eleições revela ignorância, ou necessidade de agradar a alguém..Alguns constitucionalistas e o próprio Paulo Rangel, já tinham esclarecido a incoerência de um pedido desses ser feito por um governo de gestão.
Foi notório o incómodo de Sócrates durante toda a entrevista. A situação é difícil, ele sabe-o e acredito, sinceramente, que tudo tentou para salvar o país do pedido de ajuda externa. Tentar assacar-lhe culpas pela recente subida das taxas de juro ou pelos cortes de rating e ilibar Passos Coelho da canalhice que fez ao país, parece-me má-fé. Tentar que Sócrates dissesse que Cavaco é o maior culpado desta crise, percebe-se, mas insistir depois de ele ter respondido afirmativamente à questão, com uma indirecta, foi perda de tempo.
O que o país precisa de saber é que a entrada do FMI será muito mais prejudicial para os portugueses, do que o PEC que a oposição rejeitou . Coisa que Passos Coelho não diz, nem os entrevistadores de serviço na S. Caetano quiseram perguntar. Pior… tentaram evitar que Sócrates explicasse algumas das medidas que foram exigidas à Grécia e Irlanda, para os portugueses ficarem a saber o que os espera.
A entrevista podia ter sido um bom momento para esclarecer os portugueses sobre os cenários alternativos que se vão colocar aos portugueses no dia 5 de Junho , mas definitivamente não era para isso que lá estavam os dois jornalistas.
Misteriosamente, quando acabou a entrevista, o meu televisor voltou a sintonizar a RTP 1. Lá estava o Malato a fingir que oferece 100 mil euros aos concorrentes.