O PR dissolveu ontem a AR e deu início, formal, a um período de três meses de vazio.Durante os próximos dois meses os partidos vão esgrimir argumentos, tentando captar o voto dos eleitores. O mais provável, é que na noite de 5 de Junho seja declarado vencedor o partido que melhor conseguir esconder aos portugueses as medidas que irá tomar. Indicam as sondagens e os recentes episódios "pinoqueiros" do seu líder, que esse partido será o PSD e que poderá formar um governo de maioria com o CDS/PP.
Uma maioria de direita na AR não é uma boa notícia para quem trabalha. O BE, que nas legislativas de 2009 ainda conseguiu captar muitos votos de protesto será, certamente, o partido mais penalizado, ficando reduzido a uma expressão mais consentânea com a realidade. Talvez se arrependa de ter sido o primeiro a desencader a crise, com a apresentação da moção de censura, mas será tarde para emendar a irresponsabilidade. Muitos dos seus eleitores, perante a possibilidade da ascensão da direita, optarão por voltar a votar no PS.
Depois de dois meses de campanha eleitoral, o país estará na mesma situação em que se encontra agora, ou talvez pior… Depois de regressarem de um período de férias que a conjugação de vários feriados irá permitir, os portugueses vão começar a conhecer as novas caras que os irão governar. Perceberão que a prometida redução de ministérios será insignificante, porque uma aliança entre PSD e CDS obrigará a uma distribuição alargada de lugares.
Nos primeiros dias de Julho, depois de o novo governo tomar posse, ter comprado novos carros e novas mobílias para os gabinetes e encomendado a empresas com cartão laranja a renovação da imagem dos sites dos ministérios e direcções gerais, os portugueses começarão a arrepender-se do seu voto. Despedimentos na função pública, cortes ( ou eliminação) do subsídio de Natal, redução de salários e despedimentos na função pública, aumento do IVA, dos decontos para a ADSE, SS e CGA, anúncio de privatizações, pedido de ajuda externa , redução das reformas, alargamento da idade da reforma, acesso aos serviços de saúde mais dificultados, são algumas das medidas inevitavelmente anunciadas em Julho e Agosto.
Em Setembro, regressados de férias, muitos dos professores que exultaram com o chumbo da avaliação, vão perceber que têm os seus lugares em risco, enquanto o sindicato dos professores continuará a fazer tudo para impedir a avaliação e manter o poder que tem dentro das escolas. O governo arrepender-se-á do chumbo do sistema de avaliação e, quanto ao resto, dirá que tudo isto estava no programa do PSD – que ninguém vai ler e a comunicação social esconderá. Em Setembro, os portugueses despertarão finalmente para um longo Inverno que os mergulhará numa depressão que nenhum Xanax , Prozac ou similar ajudará a debelar. Os muitos que se vão abster lamentarão a imprevidência da sua (não) escolha, deixando nas mãos dos fiéis eleitores da direita - que mesmo ligados ao ventilador e em estado pré- comatoso, não deixarão de votar- a decisão sobre o futuro do país. Lembrar-se-ão, alguns, que foi graças à abstenção que Cavaco foi reeleito em Janeiro.
Foram estas as boas notícias que o PR deu ontem ao país. Obrigado, senhor Presidente, mas tudo poderia ser agora tão diferente se outro estivesse, neste momento, a ocupar o seu lugar em Belém! Manuel Alegre bem avisou, mas os portugueses não lhe deram ouvidos...