Lula veio a Portugal receber três distinções: o prémio Centro Norte-Sul do Conselho da Europa, o doutoramento honoris causa da Faculdade de Direito de Coimbra e a distinção da Confraria do Vinho do Porto.Se me tivesse sido dada a oportunidade de o entrevistar, a minha primeira pergunta seria sobre o significado que ele atribui a estas distinções.
Constato, prém, a avaliar pelo que leio e oiço ao longo do dia, que sou um jornalista a precisar urgentemente de reforma. Senão vejamos:
O DN , numa prova de imbecilidade notável, chama para título da reportagem sobre a visita:
“ Lula vem a Portugal apresentar a camarada Dilma”
O “Público” opta por escrever na sua edição on line:
“Visita de Dilma e Lula tem peso simbólico, mas Brasil não deverá anunciar ajuda”
O jornalismo que hoje se pratica em Portugal não é informação. É secundarização das notícias, em função de interesses politico-partidários.
Ontem, antecedendo o jantar que reuniu Sócrates, Mário Soares e Lula da Silva, antes de perguntar se Lula iria interceder junto de Dilma para comprar dívida portuguesa,a pergunta disparada por um jornalista foi sobre a entrada do FMI em Portugal. Certamente, com muito desgosto para os jornalistas, Lula disse que o FMI criou mais problemas onde esteve e não é solução para resolver os problemas de Portugal. Horas mais tarde, no “Prós e Contras”, Salgueiro dizia o mesmo:
“ Das duas vezes que o FMI entrou em Portugal não veio resolver nada, porque os governos da época já tinham encontrado as soluções”.
Perante isto, só me apetece concordar com Augusto Santos Silva quando afirmava que o jornalismo hoje em dia praticado em Portugal é jornalismo de sarjeta.Acrescentaria apenas que é um jornalismo servil, acéfalo e prostrado de joelhos perante os interesses que serve.
Pedro Passos Coelho, orgulhoso por poder governar sob as ordens do FMI, deve ponderar melhor as escolhas que faz dos jornalistas que convida para jantar, apesar dos esforços dos seus súbditos, incansáveis na tentativa de lhe prestarem um inestimável serviço.