Mercedes Sosa
Nasceu em 1935 em Tucuman, a província mais pobre da Argentina. Filha de trabalhadores rurais, teve uma infância modesta mas sem problemas e aos 15 anos venceu um concurso de rádio local, cujo prémio era um contrato para actuar durante dois meses em estúdio.Apaixonada pela dança e pela canção popular, Mercedes Sosa recebeu influências de Atahualpa Yupanqui, o maior divulgador da música folclórica argentina, que aos 10 anos foi viver para Tucuman. Tornou-se, assim, uma das primeiras vozes a integrar o Movimento Novo Cancioneiro, nascido na região andina do Cuyo, na província de Mendoza, cujo objectivo era recuperar o folclore local. Só em 1965, depois de participar num festival de folclore, Mercedes Sosa obtém o reconhecimento de toda a Argentina. Devido à sua longa e farta cabeleira preta, passa a ser conhecida como ”A Negra”.
Quando faz a sua primeira tournée pela Europa, em 1967, a sua voz, a postura e a mensagem ideológica que traz nas suas canções contribui para que rapidamente seja comparada a Violeta Parra, a quem mais tarde dedicará um disco com interpretações de temas da popular cantora chilena.Durante o seu périplo europeu actuou em Lisboa e Porto. Os censores desconheciam o envolvimento político de Mercedes Sosa, pelo que não levantaram obstáculos à realização dos concertos. Não deixa de ser curioso, porém, que na mesma altura exercessem forte vigilância sobre Zeca Afonso, Fausto ou José Mário Branco e proibissem os discos de Luís Cília, então exilado em Paris...
A forte componente contestatária das canções de Mercedes Sosa não agradou à ditadura argentina e, em 1979, quando dava um concerto na cidade universitária de La Plata, foi detida e proibida de cantar na Argentina. Os seus discos desapareceram das discotecas mas, em algumas livrarias e locais de tertúlia da Av Corrientes, vendiam-se clandestinamente cópias compradas na Europa.
Exilou-se em Paris, tendo a sua primeira actuação europeia sido em Lisboa, na Festa do Avante. Quando regressa à Argentina - um mês antes do início da Guerra das Malvinas, que representou o início da agonia da ditadura - Mercedes Sosa já é uma figura popular em toda a América Latina. As suas canções – onde critica o consumismo, as desigualdades sociais e a opressão dos povos pelas ditaduras- a sua cabeleira negra e o seu inseparável poncho eram símbolos dos jovens latino-americanos.
Voz da resistência e da revolta , era também um símbolo dos jovens europeus, surgindo sempre o seu nome, a par de Violeta Parra e Victor Jara, como um dos mais importantes da música sul-americana.Intervirá na política até à morte. Nos anos 90 declara-se uma feroz opositora de Carlos Menem, o presidente argentino que conduziria o país, em 2001, ao maior desastre financeiro da história do pais das Pampas, conhecido como Corralito.
Com a queda de Menem apoia Nestor e Cristina Kirchner .Entre um vasto rol de distinções que lhe foram atribuídas um pouco por todo o mundo, destacam-se a francesa “Ordem da Comenda das Artes e Letras” , o prémio de Música da UNESCO, como reconhecimento da importância da sua música na aproximação entre os povos e o Prémio UNIFEM, que sublinha a sua luta em defesa dos direitos das mulheres.
A sua discografia é vastíssima e cheia de sucessos celebrados no mundo inteiro, tendo gravado e actuado em concertos nas mais prestigiadas salas de todos os continentes, a solo ou ao lado de alguns dos nomes mais sonantes da música latino-americana ( Fito Paez, Milton Nascimento, Pablo Milanés ,Chico Buarque…), mas também da música internacional, como Sting, Pavarotti, Shakira ou Joan Baez .
No ano 2000 realiza um dos seus maiores sonhos: interpretar a obra suprema do folclore argentino: “Misa Criolla”. Pouco depois a saúde impede a sua aparição em público, só voltando a actuar em 2005. Continuou a dar concertos por todo o mundo até pouco antes da sua morte, a 4 de Outubro de 2009. Curiosamente, o dia de aniversário de Violeta Parra.