
Um amigo de longa data, a viver fora do país, esteve recentemente em Lisboa. Desalentado com os efeitos da crise, apontava as lojas desertas em tempos de saldos como um exemplo das dificuldades que os portugueses estão a atravessar.
Um dia convidei-o para almoçar. Levei-o a um restaurante de categoria média/alta onde uma refeição para duas pessoas ( incluindo meia garrafa de vinho) custa entre 50 e 60 euros, para lhe mostrar a verdadeira dimensão da crise. Estava cheio. Por sorte, apanhámos uma mesa que acabara de vagar.
Depois do almoço, enquanto caminhávamos um pouco, chamei-lhe a atenção para o número de carros com preços superiores a 40 mil euros que circulavam àquela hora na 5 de Outubro e, ao passar por restaurantes para a classe média/média baixa, aconselhei-o a dar uma espreitadela, para constatar como estavam vazios. Expliquei-lhe que os balcões das pastelarias e cafés deveriam já ter estado cheios de gente a comer o menú SFB (Sopa+Folhado+Bica).
Era quinta-feira, sugeri-lhe uma visita nocturna à zona de Santos, D. Carlos I, Rocha Conde de Óbidos e a ida a um bar depois da meia noite, para ver como os estabelecimentos de diversão nocturna regurgitam de gente. Principalmente jovens, obviamente, mas que consomem como adultos.
Creio que o meu amigo regressou a casa com a mesma certeza que eu. A crise existe, mas não é para todos. O que não lhe disse, mas creio que ele percebeu, é que são aqueles a quem a crise menos afecta que mais protestam e se lamentam.