
Armando Vara entrou no centro de saúde. Cumprimentou as pessoas que esperavam pela sua vez para ser atendidas e entrou no gabinete da médica, armado em camisola amarela de ocasião . Estava com pressa. Precisava de um atestado médico e tinha o avião à espera. Quiçá para ir a uma consulta noutro país…
Estas atitudes não são, infelizmente, invulgares. Podia contar aqui outros casos. Invulgar terá sido a reacção de um doente inconformado com o desplante do ex-ministro. Apresentou queixa no livro de reclamações e fez muito bem. Presumo que, de seguida, tenha telefonado para a TVI a contar o episódio, mas não posso confirmar. Certo, é que a TVI foi ao local e deu a notícia no Jornal da Noite. Fez bem.
Tudo estaria dentro da normalidade ( um ex-ministro sem ética, denunciado por um cidadão com consciência cívica e uma médica subjugada pelo temor reverencial, incapaz de pôr Vara na rua e o mandar aguardar pela sua vez) não se desse o caso de o jornalista da TVI ter querido entrar pela via dos jogos florais. Não se limitou a cumprir o dever de informar, quis ter nota artística. Vai daí, pega no telemóvel, telefona para a directora do centro de saúde e dispara:
Então os amigos do primeiro ministro aqui podem passar à frente de toda a gente? ( cito de cor)
Borrou a pintura. Como o saltador de trampolim que tem a medalha de ouro quase garantida nos Jogos Olímpicos, mas decide fazer uma pirueta para impressionar o júri e a assistência, meteu ao barulho o primeiro-ministro. Estatelou-se. Aquilo que era uma boa notícia, passou a ser um exemplo de péssimo jornalismo.
A que propósito é que o primeiro-ministro é aqui chamado? Tem alguma relevância para a notícia? Este jornalista não é um estagiário, tem grande experiência profissional, não pode cometer um erro destes. Fica a impressão que o interesse dele não era dar a notícia da ocorrência, mas sim relacionar o acontecimento com o primeiro-ministro.
Manuela Moura Guedes saiu da TVI, mas deixou lá a sua impressão digital.