
Em 1992, o Nobel da Paz foi atribuído a Rigoberta, uma índia guatamelteca (cuja história de vida aqui trarei em breve) que graças à sua luta em defesa dos direitos dos indígenas, se tornou conhecida no mundo inteiro.
Quase 20 anos depois, na Bolívia de Evo Morales, surgiu uma nova heroína indígena:Super Cholita.
Criada por Rolando Valdez, um comerciante que ganhava a vida a vender discos pirata na feira da cidade boliviana de El Alto, no Altiplano, Super Cholita é uma figura de banda desenhada apostada em contribuir para a revalorização das culturas indígenas e realçando o papel da mulher na nova sociedade boliviana, que se vai afastando das influências norte-americanas e japonesas.
Baixa e gordinha, Super Cholita veste polleras ( saiotes coloridos usados pela alta sociedade crioula do século XIX) e uma capa com o sol inca bordado no peito.
Incansável lutadora, pugna por justiça e igualdade, pelos direitos das mulheres e dos trabalhadores, mas é uma cidadã comum, por isso não se coíbe de subornar funcionários públicos ou roubar feirantes no mercado, alegando que a culpa é da crise que toca a todos. Gulosa e folgazona, gosta de dançar nos bailes populares e está-se marimbando para a linha e para as dietas, não resistindo ao chuño ou à tunta ( iguarias típicas do Altiplano, confeccionadas com produtos que apenas se encontram na Bolívia), ou às llauchas e salteñas, inolvidáveis empadas de recheios variados, onde muitas vezes não falta o aji, uma especiaria picante e aromática típica desta região.
O sucesso desta heroína de banda desenhada – que durante as suas aventuras vai aproveitando para dar umas bicadas nos gringos- tem sido estrondoso, mas não subiu à cabeça de Valdez, que não pensa enriquecer à sua custa. Habituado a ganhar dinheiro com a pirataria, afirma que não cobrará direitos de autor a quem a quiser dar a conhecer noutros países, porque o seu maior interesse é que o mundo compreenda o modo de viver e pensar dos bolivianos.