
Porque será que depois de Pedro Passos Coelho ter anunciado que o PSD viabilizaria o OE 2011, os juros da dívida pública em vez de descerem, subiram?
Será porque os mercados financeiros se lembraram que Marcelo Rebelo de Sousa, nas suas homilias dominicais, durante a campanha para as eleições internas do PSD, lembrou repetidas vezes que Coelho era uma versão piorada de Sócrates? Será porque já perceberam que PPC diz uma coisa e o seu contrário com o maior à vontade?
Um dia recusa o aumento de impostos, no dia seguinte está a assinar o PEC II e a pedir desculpa aos portugueses por os ter enganado.Manifestou-se intransigente quanto à aprovação do OE, às terças quintas e sábados, mas acabou por o viabilizar numa noite de sexta-feira de intempérie. Minutos depois de ter anunciado o seu acto benemérito de salvar o país abstendo-se, PPC reuniu a sua equipa e mandou-os abrir a boca nos jornais. E o que disseram os seus mandatários, capitaneados por Nogueira Leite, aos jornalistas que almoçam com o líder laranja disfarçados de bloggers? Que o futuro de Portugal é desastroso, que não há razões para o governo se manter em funções a partir de Março, que o PSD não acredita na viabilidade do Orçamento que deixou passar e que na primeira oportunidade pode avançar com uma moção de censura. Traduzido por miúdos, PPC anunciou que não haverá estabilidade nos próximos tempos em Portugal e que as eleições a breve prazo serão inevitáveis.
Com excepção do Frankfurt Allgemeine, toda a gente lá fora percebeu a mensagem e os mercados reagiram negativamente, dando sinais que o número de circo não os convenceu e que têm dúvidas quanto às intenções do ilusionista Coelho.
Parece-me óbvio que PPC não quererá ser PM a curto prazo, caso contrário votava contra o OE. A sua actuação é da mais nojenta cobardia, revela um calculismo abjecto e, acima de tudo, indiferença pelo povo português. Quando PPC manda os seus capangas dizer na AR que é a última vez que dá a mão aos portugueses, apetece pedir a alguém que lhe corte as mãozinhas. Os portugueses não precisam de quem lhes estenda a mão, a pensar apenas nos holofotes.
Os próximos tempos serão difíceis e PPC só pretende chegar a S. Bento em período de bonança, para poder fazer umas flores. Só que os mercados estão-se marimbando para os jogos florais do líder do PSD e já perceberam que ele se está nas tintas para o país. PPC prefere a política de terra queimada, criar instabilidade e aparecer como salvador da Pátria em 2013,na expectativa de que nessa altura a crise se tenha atenuado. Só que não é isso que interessa aos mercados. Eles querem estabilidade e a imposição pacífica de regras que eles ditam através da sua porta-voz em Bruxelas. Não querem confusões, nem troca tintas. Querem um homem que aponte soluções, não querem cobardes.
Só que nem eles, nem os portugueses as conhecem, por uma simples razão: PPC não as pode divulgar, porque isso significaria nova queda nas sondagens. Escaldado com o que aconteceu depois da apresentação da proposta de revisão constitucional, PPC esconde o jogo aos portugueses, para não os assustar.
Seria talvez altura de o professor Marcelo lembrar novamente aos portugueses que PPC é uma versão piorada de Sócrates e que confiar neste PSD como alternativa ao governo, é dar um tiro no pé. Talvez isso acalmasse um bocado a euforia dos coelhistas e desse mais confiança aos mercados.