
O painel plantado na parede da sala emitiu um sinal sonoro. Olhei. Era a minha vez. Avancei resoluto, cumprimentei , a senhora retribuiu o cumprimento sem tirar os olhos do computador. Expus-lhe a primeira questão. Imperturbável, respondeu-me sem desviar os olhos do ecrã. Segunda questão mais complexa. Depois de uma pausa respondeu com uma pergunta que me pareceu descontextualizada. Era notório que não percebera a questão que lhe colocava. Repeti a pergunta.
- Ah! Não lhe sei responder ao certo.
Como não podia responder a uma questão que, obviamente, só podia ser sim ou não? Pedi-lhe:
- Por favor, preste atenção. Olhe-me nos olhos. Não percebeu a minha questão pois não?Finalmente tirou os olhos do computador. Olhou-me e disse:
- Estava a pensar na sua pergunta.
Voltou a fixar os olhos no computador. Pausa. Ao fim de uns 30 segundos perguntou:
-Mais alguma coisa?
- Sim, mas só lhe posso fazer a pergunta seguinte se me responder a esta.
Sorriu. Qualquer coisa tinha corrido bem no que estava a fazer no computador. Finalmente olhou-me nos olhos.
-Então, diga lá. Qual é exactamente a sua questão?
Respirei fundo e repeti a pergunta.Voltou a colar os olhos ao ecrã e sugeriu:
-Porque não consulta o nosso site na Internet? Eu dou-lhe o endereço…
-Fui ao vosso site na Internet antes de vir aqui. Não encontrei resposta para a minha pergunta, porque a resposta depende de dados que eu lhe estou a dar e no site da Internet não é possível introduzir. Lá mesmo diz para consultar um balcão e colocar a questão, porque a resposta depende da situação de cada um.
- Espere um momento, por favor…
(Levantou-se a contragosto e foi falar com um colega. Voltou passado meio minuto com a resposta).
-Então, sendo assim, quero mudar o valor do seguro.
Finalmente tirou os olhos do ecrã.
- Nesse caso terá de tirar outra senha, para ser atendido pelo meu colega. Eu não posso fazer a alteração.
- Tirar outra senha? Esperar mais meia hora para ser atendido, porque a senhora não pode fazer a alteração? Isto é de loucos, não lhe parece?
- São ordens superiores, não posso fazer nada…
O colega com quem ela estivera a falar, para responder à minha questão, deve ter ficado atento ao desenrolar da conversa. Levantou-se com um papel na mão. Murmurou-lhe qualquer coisa ao ouvido que a deixou incomodada. Voltou-se para mim e começou a pedir-me os dados.
- Olhe, pensei melhor. Afinal, o que vou fazer é anular o seguro e tratar do assunto com outra companhia.