
Quando os dinheiros da Europa começaram a chegar a Portugal, num pré anúncio de jackpot do Euromilhões, foi um regabofe. Todas as vilas, vilórias e aldeias quiseram ter a sua piscina, o seu pavilhão gimnodesportivo, ou o seu fontanário luminoso. Gastaram-se milhões em equipamentos cuja manutenção se tornou altamente dispendiosa para a maioria das autarquias. Chegou-se ao ridículo de construir pavilhões gimnodesportivos com capacidade para o dobro da população de um concelho, quando no concelho vizinho já existia equipamento idêntico, com capacidade para albergar a população inteira dos três concelhos vizinhos. Não pensem que estou a exagerar. É a verdade nua e crua e demonstra à saciedade a maneira de ser e estar dos portugueses.
Um dia, acompanhando a então ministra Elisa Ferreira, numa visita pelo Oeste, ouvi-a pedir, numa reunião com autarcas, sobriedade nos projectos que candidatavam aos Quadros Comunitários de Apoio. Chamou a atenção para o desperdício e para as loucuras que estavam a ser cometidas, investindo em equipamentos sobredimensionados que seriam um sorvedouro de dinheiro para as autarquias, comprometendo gerações futuras. Pediu aos autarcas que se reunissem, cooperassem e planeassem o investimento. Propôs, por exemplo, que dois municípios vizinhos partilhassem equipamentos, em vez de cada um construir o seu. Pediu que investissem os recursos financeiros em projectos que contribuíssem para a melhoria das condições de vida das populações, sem estarem preocupados em obras de encher o olho e chamou a atenção para o facto de a torneira da Europa se fechar inevitavelmente um dia, deixando as autarquias com encargos que não poderiam suportar.
Na sala vi muitas cabeças abanar em sinal de concordância mas, assim que a sessão terminou, assisti a acaloradas discussões. Se o município vizinho tinha uma piscina, eles queriam uma piscina maior e um gimnodesportivo. A ministra que fosse defender isso para Lisboa, mas não pensasse que naquela zona do Oeste as suas palavras seriam ouvidas. ( atenção: estas situações não são exclusividade do Oeste. São um problema nacional).
Aqueles que criticam o encerramento de 700 escolas padecem do mesmo mal. Não estão a defender as crianças. Se o fizessem, aplaudiriam a medida, porque as crianças vão ter escolas com melhores condições, melhores equipamentos e ofertas pedagógicas mais satisfatórias, que lhes darão mais oportunidades de sucesso escolar. Os que são contra o encerramento, fazem-no essencialmente por inveja do vizinho que fica com a escola, ou por questões partidárias. A situação em que hoje nos encontramos é, também, fruto desta forma bairrista de estar na vida que os portugueses cultivam de forma exacerbada. Aplicada ao comportamento individual, resultou no endividamento de muitas famílias ( se o filho do vizinho tem um automóvel, porque é que o meu não há-de ter?) que hoje se debatem com dificuldades financeiras, mas não abdicam de consumos supérfluos.
Desiluda-se quem ainda acredita em algum governo capaz de mudar esta forma de pensar e ser português.