-A senhora tem oito meses de atraso no pagamento do condomínio, não é verdade?
-Tenho sim senhor. Sabe como é, sr dr juiz , a vida está difícil, com esta crise não consigo pagar. Peço muita desculpa à administração do prédio, mas não tenho possibilidades financeiras para tanto...
-Não tem dinheiro para pagar 50 euros por mês, é isso?
-Ssiiiim...
-Tentou algum acordo com a administração?
-Que acordo poderia eu tentar, se não tenho dinheiro? Não vou tirar aos meus filhos para pagar as rendas…
-Não são rendas, minha senhora. Mas adiante. Sabe que essa é uma obrigação de qualquer condómino, não sabe?
-Sei sim, sr dr juiz, mas como já lhe expliquei...
-Não tem dinheiro. Quanto ganha por mês?
-Novecentos euros líquidos
-E que encargos tem?
-A alimentação, os estudos dos meus filhos, a roupa, os transportes, a gasolina…
-Gasolina? Então tem automóvel não é verdade?
-Teeennho sim.
-Quando o comprou?
-…..
-Não ouviu? Quando o comprou?
-Em Março senhor dr juiz
-Nessa altura já tinha condomínios em atraso, não é verdade?
-Ssiiimmm
-Quanto custou o carro?
-Foi barato, custou 15 mil euros
-Pagou a pronto?
-Não, estou a pagar ao Banco
-Não tinha carro antes?
-Tinha, mas já estava velhinho. Tinha quatro anos.
-E então, preferiu trocar de carro a cumprir os seus deveres de condómina…
-Não, sr dr juiz. Eu sei as minhas responsabilidades, mas o dinheiro não chega para tudo...
-Mas vai ter de o arranjar. A partir do próximo mês passa a pagar pontualmente os 50 euros mais uma percentagem da dívida que vamos acordar. Entendido?
( A Cena é só parcialmente fictícia. A sentença é pura imaginação. Não se passou num Julgado de Paz, mas sim no diálogo que a condómina teve com a administração do condomínio. O caso só vai agora para o Julgado de Paz, para apreciação, porque a condómina continua a recusar-se a pagar o condomínio).