Conjunto Musical Ponto Fixo no "Praça da Alegria"Noite de sábado.
Regresso ao Porto, depois de um passeio à beira mar, ao fim da tarde, para apanhar um pouco de ar fresco e fazer uma refeição leve. Faço um percurso diferente do habitual para voltar a casa, entrando pelo Carvalhido. Perto da Igreja , iluminações despertam-me a curiosidade. À medida que me aproximo, um grande volume de decibéis invade o meu carro, entrando em conflito com a voz de Natasha St Pier que escolhera como companhia.
Há gente na rua ouvindo um conjunto que se esforça por animar a noite. Há pares de mulheres dançando no meio da rua. À minha frente um carro avança com esforço, a passo de caracol, por entre a multidão. Penso inverter a marcha mas, atrás de mim, já há dois carros e outros vêm em sentido contrário, tacteando o asfalto a medo. O condutor de um desses carros faz um comentário que não compreendo e de imediato é atacado por um galifão que salta de entre a populaça. Alguns populares agarram-no. O carro que segue à minha frente é mimoseado com vários murros no tejadilho. Viajo num descapotável e começo a temer o pior. No meio da multidão vejo um tipo esbracejar, tentando aproximar-se. Lança-me uns impropérios. “Bai p’rá discoteca, filho da p…! Isto aqui é pró pobo, num benhas chatear que ainda te f…. os cornos.”
Mantenho-me em silêncio, fingindo nada perceber . Respondo aos insultos com sorrisos e acenos. “ Oporto very nice!”Depois, com sotaque “ Muito bonito festa. Enjoy”. Os cabelos loiros e os olhos claros da minha companheira de viagem levam-nos a confundir-nos com turistas. A populaça diz ao murcon para se acalmar, porque somos turistas.“ Bai p´rá tua terra, cabrom! Podes deixar cá a garina c’a gente amassa-a bem” Ouço gargalhadas e vozes de reprovação. Um par de garinas põe-se a dançar acintosamente à frente do carro, impedindo a passagem. Vendo que não reajo à provocação, acabam por se afastar. Em boa hora, o carro atrás de mim lança uma buzinadela de protesto. As atenções voltam-se para ele e eu passo incólume. O conjunto musical continua a debitar decibéis.
Refeito do susto, confirmo que estou na segunda cidade do país, mas acabei de presenciar um episódio digno de uma aldeia de província. Não havia um polícia a regular o trânsito, não havia um aviso da festa, nem um cartaz a aconselhar um percurso alternativo. Quando cheguei a casa perguntei à minha mãe que festa era aquela. Disse-me tratar-se de uma homenagem a uma fonte de onde brota uma água milagrosa. Na manhã seguinte, pessoa avalizada em matéria canónica afiançou-me que se celebrava a festa do Senhor do Padrão (seja lá o que isso for).