
A bloga de direita e apoiante do liberalismo coelhista anda desesperada por Sócrates ter usado a golden share e inviabilizado a compra da Vivo pela Telefónica. À falta de melhores argumentos, há até uns patuscos visceralmente anti-comunistas que corroboram umas parangonas foleiras do Financial Times que apelida a medida de colonialista e criticam veladamente o Público por ter dado espaço a Sócrates para explicar a sua posição.
Na minha modesta opinião, se há alguém colonialista nesta história é a Vivo e não Sócrates, mas há quem nunca admita isso e, muito menos, que o modelo de globalização actualmente seguido é uma forma de colonialismo económico e financeiro, que deglutirá quaisquer empresas de sucesso de países pequenos como o nosso.
Não percebo, também, a posição do PSD. Se reconhece que o negócio era ruinoso para a PT e até para o país ( vá lá, pelo menos sempre percebe melhor do que alguns jornalistas de política internacional) porque razão condena a utilização da golden share? Pensará o actual PSD que a solução para o mundo está em dar roda livre ao mercado, mesmo que isso signifique prejuízo para o país? Assustam-me um bocado os defensores da política canibalismo, mas adiante…
Estranho que essa mesma bloga permaneça em silêncio depois do desastre que ontem abalou a Alemanha da senhora Merkel, não comentando as consequências e o significado de tão nefasto episódio para os liberais.
O candidato à Presidência alemã, apoiado pelo governo de coligação no poder, só conseguiu ser eleito à terceira volta, sendo incapaz de congregar todos os votos dos partidos da coligação. Parece-me óbvio que esta vitória fragiliza e põe em risco o governo empossado em Outubro e abre a porta a eleições antecipadas.
A difícil eleição do candidato governamental à presidência põe também em evidência duas questões:
- Qualquer partido no poder ( seja liberal, socialista, democrata cristão ou social democrata) sofre a erosão da crise e corre sérios riscos de ser obrigado a pedir nova legitimação popular para se manter no governo. Os liberais não são a panaceia para a resolução da crise. Como salienta o Nobel da Economia Paul Krugman, “estamos a caminho da Terceira Depressão, que resulta do fracasso das medidas tomadas a nível global e terá custos elevados para a economia mundial” . A direita liberal que neste momento dirige os destinos de grande parte dos países europeus e a União Europeia, não deixará , provavelmente, de ser penalizada por isso. Ora,se isso acontecer, é muito provável que quando Passos Coelho chegar ao poder, a Europa esteja em contraciclo, desiludida com a ineficácia do combate à crise e os europeus tenham usado a golden share do seu voto para exigir novas políticas.
- Outro aspecto que merece relevância relaciona-se com o facto de na Alemanha os deputados poderem votar pela sua cabeça, independentemente das decisões dos seus partidos. Nem numa eleição presidencial- na Alemanha o presidente é eleito pelos deputados da Câmara Baixa do Parlamento ( Bundestag) e representantes dos estados federados- se exige disciplina partidária. Seria estimulante, para a vida política portuguesa, que os líderes partidários e os deputados em geral percebessem a importância da liberdade de voto como forma de credibilização da democracia portuguesa, hoje reduzida ao triste panorama do clientelismo.