Cavaco Silva disse há dias que Portugal , mais do que nunca, precisva dos empresários e das empresas para sair da crise.
A Brisa foi a primeira a querer colaborar. Vai substituir os portageiros por máquinas, e mandar mais de 300 pessoas para o desemprego.
terça-feira, 25 de maio de 2010
Lição de Tango
Tangueros na Plaza San Telmo (Buenos Aires)
Por cada dia que passa se percebe melhor o que pretendeu Sócrates dizer quando se referiu à necessidade de ter um parceiro para dançar o Tango. O que ele precisava não era de uma parceira estrábica em termos políticos. Incapaz de lhe acompanhar o ritmo, MFL passou o tempo a dar-lhe calcadelas, sem fazer a mínima intenção de aprender a dançar. Interpretou o tango à moda de um bordel de La Boca e foi-lhe dirigindo insultos, em vez de tentar acompanhar-lhe o passo do tango exibido em espectáculo para turistas.
Passos Coelho é ( na opinião de Sócrates) o par perfeito para dançar o tango. Tal como MFL, também não gosta do parceiro, mas comporta-se como a prostituta do Camiñito do livro de Alícia Ortiz “Mulher da Cor do Tango”. ( Para quem leu o livro, basta substituir o nome de Sócrates pelo do tallhante Raul e o de PPC pela prostituta Mireille).
Sempre que Sócrates dá um passo errado, em vez de o corrigir, PPC diz-lhe “ Estoy contigo, cariño mio” , enquanto pisca o olho para a plateia mostrando o seu desdém pelo desajeitado parceiro. Demonstrando ter aprendido com a vida de Mireille que o comerciante de carnes (Raul) levou de Paris para a Argentina para se prostituir em bordéis tangueros, PPC vai-se aproveitando de Sócrates, dando-lhe a sensação de lhe ser submisso , mas vai dando sinais para a plateia de que o final da história será bastante diferente do que as pessoas estão a imaginar. Evita que a plateia apupe Sócrates antes do passo final. Estimula até os espectadores para que o aplaudam porque, no último acorde, libertar-se-á dos seus braços e espezinhá-lo-á no solo, para gáudio dos seus fãs.
Até lá, vai deixar que o deslumbrado e vaidoso Sócrates se convença que a plateia aprecia a sua arte e vai-o encorajando a cometer erros ingratos, com repetidos “Fuerza, cariño, qué fuego! Acercate más”.
No final, ao contrário do que acontece no Tango do Rio de La Plata, não será a prostituta a sofrer a punição, mas sim o galanteador, que verá Mireille instalar-se em S. Bento e aí criar uma escola de tango onde certamente terá como parceiro Paulo Portas.
A multidão, ululante, aplaudirá o novo par, mas não tardará a perceber que afinal passou o tempo todo a ser enganado, por aquele ar dengoso copiado de Mireille.
Não há almoços grátis

Foi no início dos anos 70, na militância cooperativa, que comecei a interessar-me pelos movimentos de defesa dos direitos dos consumidores que tinham emergido nos Estados Unidos na década anterior, fruto da luta de Ralph Nader e da proclamação de John Kennedy em 15 de Março de 1962.
Cooperativista e sergiano convicto, sempre olhei para as associações de consumidores com alguma desconfiança . Não por temer a sua concorrência, mas por descrer da sua função em prol da defesa dos consumidores. Os testes comparativos sempre me pareceram de escasso interesse, por várias razões. Destinavam-se essencialmente à classe média , poderiam ser facilmente manipuláveis pelos interesses económicos, não respondiam às carências dos mais desfavorecidos e, acima de tudo, menosprezavam o vampirismo do circuito da distribuição, onde os intermediários absorviam a grande fatia do custo final, sem proveito para os produtores e com grande prejuízo para os consumidores.
Foi por isso, sem grande entusiasmo, que acolhi o aparecimento da DECO em 1974, mas me interessei pelo parecer da Câmara Corporativa, redigido por Maria de Lurdes Pintassilgo , sobre a Lei de Defesa do Consumidor que deveria ter sido votada na Assembleia Nacional no dia 25 de Abril de 1974.
Nos anos 80, quando a sociedade de consumo assentou arraiais em Portugal, escrevi diversos artigos reclamando uma maior atenção para o papel das cooperativas de consumo- que estiveram na génese do movimento consumerista, no século XIX- e alertando para a importância de dar prioridade à análise sociológica dos fenómenos do consumo e do consumismo, em detrimento da vertente economicista. Sempre me insurgi, também, contra a importância conferida aos testes comparativos e defendi que as associações de consumidores deveriam ter, para além de um papel mediador na resolução de conflitos, um papel formativo e informativo , esclarecendo os consumidores acerca das questões levantadas pelo consumo ético, o consumo sustentável e a responsabilidade social das empresas. Obviamente, poucos me deram ouvidos. A palavra de ordem era consumir , pelo que a defesa do consumidor deveria ser “ensinar” os consumidores a consumir melhor, evitando os "malandros" dos publicitários e os produtores e prestadores de serviços sem escrúpulos. Combater a iliteracia consumerista reduzia-se à missão de ensinar a ler os rótulos dos produtos e pouco mais. Deu no que deu.
Agora o que eu não esperava era , depois de ver a DECO enveredar por técnicas agressivas de marketing, ainda vir a ler isto, a propósito de um PPR:
Não tenham ilusões, porque não há almoços grátis…
Tugas à beira mar

Durante o último fim de semana morreram várias pessoas nas praias portuguesas. A falta de vigilância ( além, obviamente, da incúria tuga) parece ter sido uma das causas apontadas para essas mortes.
Desde que me conheço, as praias só são vigiadas durante a época balnear - com início a 1 de Junho e término a 30 de Setembro. Em 2004, o Governo fez publicar uma Lei em que atribui às Câmaras Municipais competências para definir a época balnear , de acordo com as características de sazonalidade específica de cada concelho. Foi uma medida de elementar bom senso. No entanto, precavendo a incúria autárquica, a Lei estabelece que cada autarquia seja obrigada a definir a época balnear no seu concelho através de uma Portaria, a ser publicada até 31 de Janeiro de cada ano. Nos casos em que as autarquias não definam a época balnear nas praias dos seus concelhos, a Lei 19/2004 estabelece que o prazo da época balnear se fixa entre 1 de Junho e 30 de Setembro.
Ao bom estilo tuga, a maioria das autarquias aproveitou logo para diminuir os prazos da época balnear, fixando-os entre 1 de Junho e 15 de Setembro, como foi o caso em toda a Região Norte e no concelho de Setúbal.
No Algarve, por exemplo, onde há turistas todo o ano, a época balnear , na maioria das praias, continua a ser fixada entre 1 de Junho e 30 de Setembro. (Só três praias do concelho de Vila do Bispo - Salema, Burgau e Mareta- e as praias dos concelhos de Albufeira alargaram generosamente a época balnear entre 1 de Abril/ 15 de Maio e 17/ 31 de Outubro. As praias do concelho de Portimão mantêm o início da época balnear a 1 de Junho, mas prolongam-na até 31 de Outubro).
Na maioria dos casos a época balnear é definida em função de razões economicistas, pouco tendo a ver com a realidade de um país que já não vai apenas a banhos no Verão.
A maioria dos autarcas ainda não terá percebido que as alterações climáticas são uma realidade e que a tendência para fazer turismo fora das épocas altas se acentua de ano para ano.
A maioria das pessoas continua a culpar o governo, ignorando que a responsabilidade da inexistência de vigilância nas praias fora da época alta se deve às autarquias.
A Marinha veio propor que a vigilância das praias, fora da época balnear , seja feita pelos pescadores. Pretenderá com esta proposta reconverter a nossa frota pesqueira em brigadas de salvamento?
Atendendo que há já vários anos se discute esta questão, não seria aconselhável que, pelo menos ao fim de semana , as praias de todo o país tivessem vigilância obrigatória entre 1 de Abril e 31 de Outubro? Talvez assim se evitassem algumas mortes no futuro.
Claro que o governo, em vez de lavar as mãos como Pilatos responsabilizando as autarquias por não cumprirem o seu dever, poderia impôr essa obrigação mas, se o fizesse, lá viria a Associação Nacional de Municípios protestar contra a ingerência e acusá-lo de sobrecarregar as autarquias com encargos que a crise não lhes permite suportar.
Como é previsível que esta discussão se prolongue nos próximos anos, o melhor mesmo é cada cidadão consciencializar-se dos cuidados a ter quando se aventura a um banho no mar. É que há situações em que nenhum nadador –salvador pode valer.
A propósito: tenho uma sugestão a fazer às autarquias. Os tugas barafustam muito , mas não souberam crescer em democracia. Do que realmente gostam é de quem lhes ponha o freio nos dentes e os trate com chicote. Com falinhas mansas, não vão lá. Por isso, obriguem os nadadores salvadores a aplicar as multas previstas na Lei de cada vez que um banhista desrespeite a bandeira vermelha e vão ver como arrecadam receitas suficientes para pagar os seus serviços. Pelo menos até que o povo português esteja um bocadinho mais educado e se liberte do efeito pavloviano da chicotada que os torna cumpridores das mais elementares regras cívicas.
Esquina da memória (1)
A OCDE içou o alerta amarelo em relação à globalização. Começa por avisar os Governos que as preocupações das pessoas estão a crescer e que isso se pode reflectir em votos eleitorais de protesto que condicionarão o desenvolvimento das políticas globais. Prossegue, reconhecendo que as políticas laborais têm afectados os direitos dos trabalhadores, reduzido os salários e aumentado a insegurança. E conclui admitindo que a globalização aumentou o fosso entre ricos e pobres. Nada que não se soubesse, mas que dito pela OCDE ganha mais força.
Principalmente, se nos lembrarmos que faz parte de um relatório de...2006!
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