Washington DC ( National Mall)
Talvez estranhem esta escolha, mas não podia deixar de escrever sobre uma cidade onde estudei e fui muito feliz, apesar de ter ido para lá um pouco contrariado pois, em 1976, os Estados Unidos não estavam na minha lista de prioridades. Mas aconteceu e o acaso por vezes traz-nos belíssimas surpresas... Não só tenho belíssimas recordações desse tempo, como passei a ter uma visão diferente dos americanos.
Já lá não vou há muitos anos, por isso a visão que vos desse de Washington seria certamente uma visão deturpada. Em passo de corrida, aqui ficam três episódios me ligam a Washington.
Washington D.C. (Downtown)
Primeiro: Foi lá que, depois de uma noite de copos em Georgetown, decidi atravessar os Estados Unidos de costa a costa, percorrendo a mítica Route 66. Demorei alguns anos a concretizar o desejo mas, quando finalmente cumpri, pensei que tinha acabado de ter a maior aventura da minha vida. Felizmente, o futuro reservar-me-ia outras aventuras ainda mais fascinantes
Segundo: Passei lá o 4 de Julho no ano do Centenário, o que foi uma experiência fantástica e inolvidável.
Terceiro:Certa noite passeava com um amigo em Georgetown, em prospecção típica de latinos na casa dos 20, que pensavam ter o universo feminino a seus pés, quando fomos abordados por três “piquenas”, passeando de carro, que nos convidaram a dar uma volta e dançar um bocado. Olhámos um para o outro, um bocado desconfiados, entabulámos conversa para nos certificarmos se não seriam prostitutas. Ao fim de alguns minutos, desfeitas as dúvidas, decidimos aceitar o convite.
Antes de arrancar fizeram muitas perguntas sobre a razão da nossa estadia em Washington e, a determinada altura, quiseram saber onde morávamos. Quando lhes dissemos, puseram o carro em andamento, deram umas voltas por Georgetown e, quando esperávamos que elas fossem parar numa discoteca, ou num bar, começaram a conduzir em direcção à cidade. Protestámos, porque não queríamos ir directos para casa. Antes, era preciso “criar clima”. Entre muita galhofa, explicaram que não estavam vestidas convenientemente para ir a uma discoteca e queriam ir a casa trocar de roupa.
Continuaram a fazer inúmeras perguntas sobre a nossa vida e, entre avanços e recuos que prometiam uma noite animada, apercebemo-nos que estávamos próximos de nossa casa. Comecei a falar com o meu amigo em português. Ambos estávamos desconfiados com aquele abuso e começámos a admitir a hipótese de algo pouco agradável, hipótese que se adensou quando a condutora começou a falar numa linguagem que nos parecia cifrada através de um “walkie talkie”. Chegados à porta de casa, estranhámos a presença de um carro da polícia, mas a dúvida logo se desfez quando a condutora nos disse que as três eram polícias e tinham chamado os colegas para nos identificarem e fazer a confirmação de que tudo o que tínhamos dito era verdade!
Como era possível acontecer uma coisa destas a dois tipos que tinham acabado de viver o glorioso período do PREC e não estavam preparados para estas práticas policiais?
Como não levávamos identificação ( percebíamos agora a razão de uma conversa que terminou com uma delas a pedir para lhes mostrarmos o passaporte, porque nunca tinham visto um passaporte português), um dos polícias acompanhou-me até dentro de casa, de onde trouxe os passaportes. Depois, entre muitos sorrisos, justificaram a sua atitude com a necessidade de protegerem convenientemente os estrangeiros.
Georgetown
“Sabem, é muito perigoso andar pelos sítios onde vocês andavam. Nunca andem a pé à noite, sozihos, em Washington” e blá, blá, blá.
Quando se foram embora, estávamos os dois furiosos. Quase nos iam estragando aquela noite de sábado. Deixámos passar uns minutos, para termos a certeza que já estariam longe e voltámos a meter-nos ao caminho, calcorreando a 23th street em direcção a Georgetown. A penantes, como quase sempre haveríamos de fazer enquanto estivemos em Washington. Quando não tínhamos “boleia” para regressar a casa, suspirávamos sempre que aparecesse a polícia. E a verdade é que isso aconteceu algumas vezes, para nossa satisfação e conforto.
Apesar dos constantes avisos para os perigos de andar a pé à noite, nunca fomos assaltados nem importunados ( excepto pela polícia). Na véspera de nos virmos embora, porém, o meu amigo foi assaltado por volta do meio dia em pleno centro da cidade....
Ah pois, acabei por não vos contar nada sobre a cidade, não foi?
Bem, o Smithsonion, com os belíssimos museus e os reconfortantes jardins, o cemitério de Arlington, a Casa Branca, o Pentágono, o Capitólio, o George Washington Memorial e o rio Potomac ainda lá estão de certeza e merecem uma visita. Quanto ao resto, é melhor não dizer nada, pois podia induzir-vos em erro. Só faço votos para que sejam ( ou tenham sido) tão felizes por lá como eu fui.