Vive em Aveiro e tem 29 anos. Chama-se André e era desconhecido dos portugueses até há poucos dias. Saiu do anonimato quando foi chamado a substituir Marques Mendes no Parlamento e, deslumbrado, afirmou aquilo que toda a gente sabe: os deputados ganham demais.
André não se ficou pelas palavras. Passou aos actos e decidiu oferecer 10 por cento do seu vencimento a uma instituição de solidariedade social do distrito que o elegeu.Talvez por ser um rapaz genuíno, André pensou que estava a agir bem. Enganou-se. Não previu que os seus colegas de bancada reagissem como abutres a quem estão a roubar a presa. Reunião de emergência do Grupo Parlamentar, duras críticas e a exigência de que pedisse desculpas publicamente. Leram bem. PUBLICAMENTE.
Ao bom estilo de uma "famiglia" calabresa, os deputados quiseram mostrar as regras ao neófito e mostrar o que acontece a quem não cumpre. André foi obrigado a admitir que tinha errado. Apenas por ter dito aquilo que pensava? Não. André talvez não soubesse que os deputados se preparam para duplicar o seu vencimento meio às escondidas. Sem aumentar o vencimento base, mas aumentando as mordomias. As declarações de André tornaram-se, por isso, ainda mais incómodas.Aposto que no meio das críticas houve um deputado que lhe sugeriu que oferecesse o dinheiro ao Partido e uns quantos que o acusaram de ser populista.
Pouco importa para o caso o partido de André, porque os partidos do arco do poder comportam-se todos da mesma maneira. Sob o guarda-chuva da disciplina partidária, tudo se justifica.Imagino a amargura e a desilusão do André. Corromperam-lhe a boa-fé. Impediram-no de sonhar que em política se pode ser genuíno, dizer e fazer o que se quer.Não te percas, André! Sai da política enquanto é tempo...
Publiquei este post em Fevereiro de 2008. Dão-se alvíssaras a quem indicar o paradeiro deste deputado que aqui me pareceu oportuno relembrar hoje.
Não faço a mínima ideia, mas fico, muuuuuuuito, curiosa.
ResponderEliminarCarlos
ResponderEliminarEssa espécie (de político) está quase em extinção...pode ser que tenha sobrevivido. Tal como a Isa tambem fico curioso.
Abraço
Era mesmo muito bom sabermos dele...
ResponderEliminarDeus queira que esteja bem longe da politica e dos políticos e que tenha uma empresa próspera e com empregados satisfeitos!
Só uma observação, Carlos: os partidos do arco do poder(se isto quer dizer os partidos com assento parlamentar...) NÂO se comportam todos da mesma maneira, nomeadamente em relação a esta questão dos vencimentos.
ResponderEliminarAbraço
Refiro-me mesmo aos do arco do poder, Justine ( PS, PSD e CDS)
ResponderEliminar"Andrés" como esse devem ser um caso quase único...
ResponderEliminartalvez até único!
Abracinho
Bem, no Parlamento já não deve estar, que o "crime" grave de dizer o que pensa, ainda por cima referindo-se aos ordenados dos deputados, não se costuma perdoar nessas bandas...
ResponderEliminarCarlos
ResponderEliminarIa dizer o mesmo que a Justine... mas já tenho a resposta.
Contudo, quero manifestar-lhe o receio que este post, tão "popular" pelos comentários, se insira na perspectiva denunciada no excelente artigo "A democracia debaixo de fogo" do André Freire e onde este de interroga "Veremos se a classe política consegue elevar-se acima do populismo, a bem da democracia, ou se cede às tentações..." Este texto não está disponível no Público, mas está aqui.
http://www.smmp.pt/?p=8971
Não me merece perdão se o não ler...
(acho que as instituições serão dignas se as ajudar-mos a dignificar-se, elegendo gente de jeito e pagando-lhes bem!)
Rogério: Eu já conhecia o texto e não deixo de dar razão ao André Freire, mas o meu objectivo não foi ser populista. Foi apenas relembrar uma história verdadeira que me pareceu oportuno recordar.
ResponderEliminarPopulista, quanto a mim, ( e já aqui o escrevi) foi a redução dos vencimentos dos políticos, pelas razões que então expliquei.
Abraço