Hoje à noite,pelas 22 horas, estreia na RTP 1 a série 1986.
Não arrisco comentar previamente, mas palpita-me que teremos uma revisitação ao estilo Amigos de Alex mas, certamente, sem a mesma pujança.
Entretanto, recupero para os leitores do CR, um resumo das minhas memórias do ano 1986, escritas, produzidas e publicadas por mim em 1999, no âmbito do trabalho sobre a História do século XX que, em breve, terá reedição em livro.
A entrada em 1986 faz-se ao som de Rui Reininho cantando “ Quero ver Portugal na CEE”. Foi feita a sua vontade...
No primeiro dia do ano , Portugal entra formalmente para a CEE e o primeiro bébé proveta a nascer no nosso País já é um cidadão comunitário. Ambos os acontecimentos podem ser registados com as novas máquinas fotográficas descartáveis.
No Hospital de Santa Cruz faz-se o primeiro transplante cardíaco. A medicina portuguesa vive um ano de glória.
Acaba o papel selado e começa o "Cartão Jovem" . A sociedade de consumo proclama eufórica :"Venham a mim as criancinhas".
"Era Uma Vez na América" enche as salas de cinema, enquanto a campanha de Freitas do Amaral sob o lema "P'ra Frente Portugal" é feita ao bom estilo americano. Mário Soares "é fixe" e ganha as eleições, mas quem vai p'rá frente é a sociedade de consumo. A D. Branca está presa, mas a Bolsa faz a sua vez e os portugueses entram em euforia bolsista.
O filme “África Minha” é o rei de Hollywood, ao conquistar sete estatuetas e o nigeriano Wole Soyinka é o primeiro africano galardoado com o Prémio Nobel da literatura. A África do Sul, no entanto, persiste na sua teimosia e o governo vê-se obrigado a decretar o estado de sítio, na sequência de graves tumultos raciais.
O vai-vem Challenger explode com sete tripulantes a bordo. Pausa no programa de voos tripulados.
Aquilo que se dizia ser impossível acontece: em Chernobyl (URSS) explode um reactor da central nuclear e é libertada para a atmosfera uma gigantesca nuvem de radiações, que atinge vários países europeus.
Na Alemanha um incêndio numa fábrica de produtos químicos polui gravemente o Reno.
Os cientistas lançam alertas de perigo, mas os políticos assobiam para o ar. Se o povo quer circo, os políticos estão dispostos a fazer-lhe a vontade, em troca de uns votos nas urnas. Não admira, pois, que muitos tenham encarnado a figura do palhaço rico, para conferir mais realismo ao circo da sociedade de consumo.
Em Portugal os portugueses fazem filas. Para levantar dinheiro no multibanco e para preencher os boletins do totoloto, na esperança de verem descer a inflação.
As agências de viagens andam numa azáfama a organizar excursões de todo o País para Lisboa. Motivo: nas Amoreiras fora inaugurado , em 1985, o farol da
sociedade de consumo à portuguesa - o Centro Comercial das Amoreiras. Os portugueses que antes do 25 de Abril se deslocavam a Badajoz para comprar caramelos, riem-se das hordas de espanhóis que invadem Lisboa e desembarcam, estupefactos, no paraíso ibérico da sociedade de consumo. ( Anos mais tarde o Corte Inglês há-de vingar os espanhóis, mas isso é outra história)
A partir de agora é possível uma visão do que será o século XXI, com a inauguração, perto de Paris, de La Villette- a Cidade da Ciência. Se as previsões não falharem, é capaz de ser agradável viver essa época tecnológica.
No final do ano, na URSS, a glasnost junta-se à perestroika e com duas palavras apenas, os portugueses aprendem a falar russo.