A CGD vai encerrar entre 150 a 200 balcões. "Imposição de Bruxelas", dizem eles.
Nem vou dissertar sobre a ignorância de quem decide em Bruxelas sobre o que é melhor para o banco público português. Isso implicaria que os decisores eurocratas conhecessem a realidade portuguesa e decidissem de acordo com ela, em vez de mandarem bitaites a partir dos seus gabinetes com base em folhas de cálculo. Não vou por aí. Atenho-me ao que se passa por cá, para responder a uma pergunta que nos últimos dias tem sido formulada à exaustão por portugueses que deveriam conhecer o país: quem é que hoje ainda vai a um balcão?
Na maioria dos casos, a pergunta tem sido feita por portugueses com assento nos programas de televisão e nas colunas opinativas da imprensa, num tom que prenuncia resposta à Frei Luís de Sousa: (Quase) Ninguém.
Cumpre-me informar esses ilustres cidadãos portugueses que no interior do país só conhecem os hotéis de luxo onde se hospedam alguns fins de semana por ano para poderem dizer que visitam o país que estão muito enganados e têm memória fraca. Se a tivessem saudável lembrar-se-iam, por exemplo, dos protestos da população de Abrantes contra o encerramento da CGD. Foi só há um ano, meus caros desmemoriados!
Tenho ainda a penosa missão de lhes lembrar que desconhecem o que é a desertificação do interior e nem imaginam que haja gente a viver em locais sem acesso a qualquer serviço público, num raio de 50 ou mais quilómetros, como se estivessem no século XIX. E é gente que paga impostos, porque deles não sabe fugir, como alguns opinadores da nossa praça.
Descansem, no entanto, os entusiastas das medidas economicistas que estão a corroer a sociedade e a transformar os seres humanos em meras peças de um tabuleiro de monopólio, porque não vou invocar o argumento dos velhinhos isolados em locais recônditos, para defender a existência de um balcão que atende cinco clientes duas vezes por ano.
O exemplo que vou apresentar para responder à pergunta tantas vezes formulada nos últimos dias pelos adeptos do economês e da modernidade tecnológica fica mesmo em Lisboa, outrora capital do Império e hoje cidade subalterna da UE, visitada por milhões de turistas embevecidos com tanto tipicismo ancestral.
Recomendo aos comentadores, analistas, colunistas e opinadores que visitem o balcão da CGD no Lumiar e se espantem com o movimento diário e as filas que por lá se formam em alguns dias do mês. Talvez depois deixem de fazer perguntas estúpidas e percebam que o país que eles conhecem não é o mesmo de que falam nas suas intervenções públicas.