Na sequência do post de ontem sobre Inteligência Artificial- para que não haja mal entendidos- esclareço os leitores do CR do seguinte:
Não tenho nada contra aqueles que desenham o/a parceiro/a
dos seus sonhos, imprimem-no em 3D e depois ficam à espera de uma lei que
legalize o casamento.
O que verdadeiramente me encanita na Inteligência Artificial
(IA) é o aumento das desigualdades. Quem tem jeito para desenho fica sempre com
os melhores exemplares, enquanto verdadeiros nabos nessa nobre arte, como eu,
não têm quaisquer hipóteses de arranjar uma parceira decente.
Eu bem sei que nos prometem, para breve, a possibilidade de
ir ao hipermercado comprar um kit com a mulher/homem ideal para nos fazer
companhia para o resto da vida, sem nos termos de chatear muito e a
possibilidade, nada desprezível, de podermos trocar no prazo de 14 dias úteis.
Mais uma vez. porém, a escolha do/a parceiro/a fica condicionada ao poder de
compra, pelo que os mais desfavorecidos ficam com os kits sujeitos a doenças (
ferrugem, p.ex), malformações e outras anomalias de fabrico.
Presumo que haja sempre a possibilidade de comprar um kit
androide em saldos, mas ninguém está à espera de poder comprar em saldos uma
Angelina Jolie com 18 anos. O mais provável é que na altura de
chegar aos saldos, a preços módicos, já venha sem metade das peças.
A IA irá também favorecer a ascensão social dos
desenhadores, já que será possível a qualquer um pedir a um desenhador um
modelo à nossa medida (morena, cabelo azeviche, olho verde e medidas
86-60-86.por exemplo) mas corre-se sempre um risco: e se o desenhador se
apaixona pelo produto que criou, como é? Pode haver réplicas infindáveis de um
modelo? E quem quiser um modelo exclusivo?
São tudo coisas que me apoquentam mas, felizmente, dizem os
especialistas, a legalização do casamento entre humanos e andróides só
irá acontecer por volta de 2050. Até lá, porém, talvez não fosse má ideia pensar
um pouco sobre o assunto.