Há dias, o Miguel Esteves Cardoso escreveu uma crónica sobre a praga dos drones. Também eu aqui me insurgi contra os drones e a nova legislação imprecisa e permissiva.
Hoje, porém, venho aqui manifestar a minha satisfação por existirem drones. Vou tentar explicar em breves palavras.
Há algumas décadas Podentinhos, aldeia próxima de Penela, tinha 600 habitantes. A falta de condições para uma vida digna obrigou muitos habitantes a deixar a aldeia em busca de uma vida melhor. Outros morreram. Outros ainda foram viver com familiares, ou colocados em lares.
Em 2015, a aldeia de Podentinhos tinha apenas um habitante Com 79 anos e escassos recursos, o sr. Joaquim recebe apoio domiciliário ( higiene pessoal, limpeza da casa, lavagem da roupa e assistência médica)da câmara de Penela e da Santa Casa da Misericórdia de Coimbra.
Todos os dias uma carrinha lhe vai levar o almoço, mas o estado das estradas ( nomeadamente em dias de chuva) dificulta ou mesmo impossibilita a tarefa e, obviamente, quem mais sofre as consequências é o sr. Joaquim.
Ora, graças a um entendimento entre a Santa Casa e a Câmara de Penela e o apoio técnico de uma start up do Porto, em Dezembro o almoço do sr Joaquim começou a ser entregue por um drone. A ideia é boa. Poupa-se tempo e dinheiro. Mas, felizmente, só irá ocorrer pontualmente, quando as condições não permitam alternativa. A Câmara de Penela e a Santa Casa de Coimbra (ainda) mantêm a lucidez e percebem que tão importante para o sr Joaquim, como receber a refeição diária, é manter contacto com as pessoas e receber o afecto de quem presta apoio domiciliário.
Entretanto, a startup que materializa o projecto, já imagina os seus drones a fazerem novas rotas para entregar refeições ao domicílio. E é aqui que a ideia começa a perder encanto. Ver os idosos cada vez mais isolados e carentes, não é nada bonito.