Há seis meses Putin e Erdogan eram inimigos aparentemente irreconciliáveis. Só que em geoestratégia política os inimigos facilmente se
tornam amigos inseparáveis e vice-versa.
As relações entre os líderes russo e turco sempre foram
tensas, mas o abate de um avião russo pela força aérea turca, em Novembro de
2015, levou Putin a reagir com firmeza, no intuito de colocar em sentido
Erdogan. Acabou com a isenção de vistos, aconselhou os russos a não visitarem a
Turquia e, com isso, provocou uma queda
de 95% do turismo russo para aquele país, o que teve um impacto de mais de 0,5%
no crescimento da economia turca.
Erdogan conseguiu amenizar as perdas com o negócio dos
refugiados feito com a senhora Merkel e terá pensado que o golpe de estado de
Julho iria fortalecer a sua posição nas negociações de adesão à Europa. A
confiança era tal, que Erdogan admitiu mesmo reaplicar a pena de morte, para
eliminar os seus adversários internos.
A Europa, mais uma vez, optou por uma reação dúbia e os
EUA não satisfizeram ( pelo menos de imediato) a pretensão de Erdogan que pretendia a extradição do seu principal
adversário ( Guhlen) a residir nos EUA.
Percebendo que, embora por razões diferentes, ele e Putin
tinham inimigos comuns (EUA e UE), Erdogan tentou uma aproximação ao líder
russo que, para além das sempiternas más relações com os americanos, tem um
contencioso com a Europa por causa da Ucrânia.
Estavam desde logo reunidas as condições para que a
reconciliação fosse um sucesso estilo autoritário ( para não escrever
ditatorial) de ambos, conjugado com o interesse em combater inimigos comuns,
facilitou a tarefa. Erdogan pediu desculpas a Putin e à família do aviador
morto em Novembro pela força aérea turca e, ontem, sentaram-se os dois à mesa
das negociações. Aproveitaram, obviamente, para mandar recados aos EUA e à
Europa e no final, um assessor de Erdogan terá certamente comentado com o seu
homólogo russo:
“Tão inimigos que nós éramos e agora…”
O russo não deixou que
o turco terminasse a frase e respondeu:
“ Tão estúpidos eles ( os europeus) são , que conseguiram
reconciliar dois inimigos que irão agora combate-los em conjunto” .
Esta manhã, algures, numa praia algarvia, em gozo de férias,
Sócrates terá comentado:
“ Ontem, o mundo mudou!”
E não é que está cheio de razão?