Primeiro ( ainda na última década do século XX) era a
globalização que ia devolver a liberdade e a democracia a todos os povos do
mundo e diminuir as desigualdades. Anos depois as desigualdades tinham aumentado e
a democracia continuava enferma na maioria dos países.
Foi então que os arautos da liberdade e da democracia se
viraram para a primavera árabe.As ditaduras egípcia, tunisina, líbia, and so on
tinham sido finalmente derrubadas, "graças à
vontade popular" e em seu lugar iriam nascer, frondosas, democracias
libertadoras. Bastaram alguns meses para se perceber que apenas tinham mudado
as moscas.
Os regimes amigos do
mercado, adoradores do deus dinheiro e tendo a ganância como único "valor", foram inventando,
aqui e ali, povos heróicos que saíam à rua para derrubar ditadores e construir
viçosas democracias.
Disfarçado de democrata, o polvo dos mercados foi estendendo os tentáculos e cumprindo o seu objectivo: substituir ditadores que lhe são adversos, por ditadores dóceis que aceitem as regras do jogo da corrupção, sem pestanejar.
A mais recente "vitória" do povo ocorreu na
Ucrânia. Apeado o ditador corrupto, a democracia instalou-se miraculosamente na
praça Maidan, com um primeiro ministro a ser eleito por voto de braço no ar. Ao
que parece, com o mesmo sucesso das democracias nascidas na Praça Tahrir e
noutras praças espalhadas pelo mundo.
Na Ucrânia as coisas não estão a correr pelo melhor. Na semana passada, o primeiro ministro ucraniano foi obrigado a demitir-se na sequência do alegado envolvimento no Panama Papers. Mas já havia sinais de que a solidariedade europeia que derrubara o poder instalado na Ucrânia ( apelidado de corrupto e ditatorial, por ser pró russo) estava muito fragilizada. Dias antes, os holandeses tinham chumbado em referendo, um acordo comercial entre a Holanda e a Ucrânia. Na hora da verdade, os interesses de cada um vêm ao de cima e a solidariedade vai ruindo como um baralho de cartas.
Como era óbvio e eu já escrevia em 1991 na Tribuna de Macau,
a globalização só tinha um objectivo: implantar o pensamento único. Esteve
quase a cumprir os objectivos e nada nos garante que não os venha a cumprir.