Venderam—nos a globalização como a diminuição das desigualdades. O único obstáculo, segundo alguns, era a falta de democracia em alguns países. O Ocidente decidiu, por isso, que seria uma boa ideia exportar a democracia para o Extremo Oriente e Norte de África. Lançou-se em cruzadas propagando a boa nova da democracia, exultou com a Primavera Árabe, armou terroristas para derrubarem ditadores e o resultado está à vista.
Às ditaduras derrubadas seguiram-se outras ainda mais sanguinárias e totalitárias e as pessoas que viviam sob esses regimes e em países circundantes, passaram a viver pior do que nas ditaduras anteriores à Primavera Árabe. As desigualdades são cada vez mais gritantes, asn pessoas passaram a ser perseguidas por questões religiosas e gerou-se uma onda de migrações nunca vista desde há séculos.
Tanto bastou para que a aldeia global por onde nos prometiam que haveriam de correr rios de mel, se encouraçasse e cada um começasse a por trancas na porta, com medo da invasão dos bárbaros.
Refugiados sírios são travados na fronteira da Turquia com canhões de água;
Na fronteira francesa, a policia repele mais de duas centenas de imigrantes magrebinos provenientes de Itália;
No Mediterrâneo morrem milhares de migrantes todos os meses, mas nem a morte os dissuade da ideia de virem para a Europa, tal é o terror e a fome;
No sudeste asiático migrantes do Bangladesh andam há meses a ser corridos de país para país, pois ninguém os quer dentro das suas fronteiras;
A UE admite usar a força para impedir a entrada de imigrantes ilegais;
Volta a falar-se com insistência na suspensão dos acordos de Schenguen.
Os governantes europeus fingem-se preocupados com o problema, mas varrem-no para debaixo do tapete, ou dizem aos países do sul para se desenrascarem, porque o problema não é deles. E na realidade têm razão. A única globalização que lhes interessava está cumprida: com a diluição dos mercados financeiros, torna-se cada vez mais difícil detectar o rasto do dinheiro. A lavagem de dinheiro e a corrupção tornaram-se tão impunes como os glutões do Presto que a pretexto de paparem as nódoas, passaram durante muitos anos impunes aos seus efeitos tóxicos.
Estamos muito piores do que antes da globalização. Para mim não é novidade. Em Seattle, Durban, Joanesburgo, Nova Iorque, Londres ou Paris, milhares de pessoas saíram à rua para alertar contra “o outro lado” da globalização. Foram corridos à bastonada e acusados de extremismo pela comunicação social. Alguns, chamaram-lhes terroristas urbanos.
Hoje, são os governos a recorrer a técnicas terroristas. Para garantirem a sua eternização no poder, alteram leis eleitorais que concedem maiorias artificiais a partidos que vençam as eleições por uma margem mínima e amedrontam os eleitores com o caos, no caso de não serem eleitos.