Assisti ao debate de ontem na AR. Muitos esperavam um debate aceso, com perguntas incisivas da oposição sobre a questão que tem envolvido o incumprimento fiscal e contributivo de Passos Coelho. A ida de António Costa à AR para preparar o debate aumentou as expectativas de que o PS iria aproveitar para levar Passos Coelho ao tapete.
No final, uma profunda decepção.
Enquanto nas galerias alguns jovens invectivavam o pm com gritos de " Metes nojo", apenas Catarina Martins e Heloísa Apolónio se esforçavam por manter vivo o debate. Jerónimo de Sousa esteve sem chama e Ferro Rodrigues fez uma intervenção quase patética.
Não se pode dizer que Passos Coelho tenha conseguido matar o assunto, porque a opinião pública não vai esquecer , mas a oposição - que se limitou a cumprir os serviços mínimos- ficou muito mal na fotografia.
À noite, em entrevista à RTP, António Costa acabou por explicar a "desistência" do PS.
Compreendo as razões invocadas e até estaria tentado a aplaudir, porque demonstram que pode haver uma postura ética em política, que rejeite o "vale tudo". O problema é que Costa incorreu em três erros de avaliação:
- Para ter um comportamento elevado numa disputa eleitoral, é preciso que o adversário jogue com as mesmas regras. Ora nem Passo Coelho, nem Paulo Portas - e muito menos os seus compinchas- pautam o seu comportamento político por princípios éticos e morais. Quando assim é, está-se mesmo a ver quem sai a perder.
- A mensagem de Costa pode induzir os portugueses a pensar que se o PS não reage é porque tem telhados de vidro. Ideia que aliás alguma comunicação social já está a fazer passar, com algum sucesso.
- O pacto de não agressão proposto pelo líder do PS também não tem em consideração que, para passar a mensagem é preciso jogar com as mesmas armas nos meios de comunicação social. Como é sabido, nas televisões generalistas só há comentadores afectos ao PSD, não podendo assim o PS fazer passar o seu discurso, a não ser pontualmente.
Os simpatizantes e militantes do PS que elegeram António Costa esperavam certamente mais acutilância mas, diga-se em abono da verdade, essa não é a maneira de estar do actual líder socialista. Ele quer - e acredita que pode- vencer os partidos do governo através das ideias apresentadas no seu programa de governo e com uma estratégia "pacifista" onde o ataque pessoal não entra. É louvável e é bonito. Duvido é que seja eficaz.