Na entrevista de João Lisboeta Araújo ao I, há vários pontos que merecem especial destaque, mas retive este pequeno excerto, certeiro, que devia estar sempre visível nas redações dos jornais, porque há códigos que nunca deviam cair em desuso. E já agora também nas escolas, para que as crianças percebam que muito daquilo que ouvem em casa não é exemplo a seguir.
Jornal I- É muito crítico da comunicação social. Não acha normal que a detenção e prisão de um ex-primeiro-ministro desperte uma grande atenção mediática?
JA- Aquilo de que me queixo não é das notícias. É do facto de serem tendenciosas e mal informadas. Normalmente com desprezo pela verdade, porque não são factuais, são opinativas. O caso justifica ser amplamente divulgado, o problema é que as notícias visam a destruição, a degradação de uma pessoa e isso aborrece-me. Muito do que foi dito é crime mas eu agora não tenho tempo de me ocupar disso. A seu tempo... Talvez seja pela minha idade, mas fui educado por um outro código, que já não vigora.
I-Que código?
JA- O de que não se bate numa pessoa que está caída, não se goza com um preso, não se brinca com um doente, não se ri de um soldado coxo na formatura. Foi o que aprendi. Mas o que assisto é a um bacanal contra uma pessoa que está presa e não se pode defender. Está sujeito a toda a maledicência, à fantasia, a falsidades e algumas coisas verdadeiras, mas não tem possibilidade de se defender.