Falhada a tentativa de amarrar o PS a um compromisso que o obrigava a aprovar incondicionalmente o OE 2014, Passos Coelho contou com a colaboração de Cavaco para criar a ideia, na opinião pública, de que o governo vai mudar de rumo e entrar na fase de crescimento.
Persiste, porém, um problema. Sem a anuência do PS ao acordo, é mais difícil condicionar o TC na decisão sobre normas inconstitucionais que o governo se prepara para introduzir no OE 2014.
Entrou então em acção o novo Relvas e “o Sol”, na sua edição de hoje, começou a fazer o trabalho de sapa ( ver capa) .
O semanário do arquitecto aspirante a prémio Nobel noticia que o governo vai avançar com os cortes e alterar as regras de aposentação dos pensionistas do Estado.
“No núcleo duro do ‘passismo’ há plena consciência de que os cortes nas pensões do Estado representam uma enorme dificuldade, desde logo no plano constitucional” – escreve o Sol.
O semanário tem ainda o cuidado de informar que
“o governo não tem opções, no caso de haver dois ou três chumbos do TC”.
É esta frase que deixa perceber a golpada que Passos terá congeminado com Cavaco.
Em primeiro lugar, colocar a toda a hora, nas televisões e imprensa, comentadores do regime a enaltecer este governo e a entrada num novo ciclo, de modo a criar na opinião pública a sensação de que finalmente temos um governo credível, apostado no crescimento e em amenizar as medidas de austeridade.
Se, daqui a uns meses, o TC chumbar algumas medidas do OE, o governo demite-se alegando que o TC não o deixa governar. Está assim criada a “força de bloqueio” , imagem tão cara a Cavaco.
Demitido o governo e convocadas novas eleições, a campanha eleitoral dos partidos da coligação assentará na vitimização:
Estão a ver ? Agora que íamos começar um novo ciclo de crescimento, o TC opõe-se a que apliquemos as medidas necessárias para o conseguir. Quem fica a perder são os portugueses, vítimas dacegueira dos juízes, amarrados à Constituição e incapazes de perceberem os problemas do país. Precisamos de uma vitória claríssima nas próximas eleições, para impedir o PS de vir estragar aquilo que construímos ao longo destes dois anos com muito esforço e muitos sacrifícios dos portugueses, que não terão valido de nada se o PS vencer as eleições.
No governo há muita gente que aposta nesta estratégia. E se tiverem razão?