Organizado por José
Nuno Matos e Nuno Domingos, “Novos
Proletários – A precariedade entre a “classe média” em Portugal”, é a
segunda parte do estudo sobre o processo de degradação e precarização laboral
em curso.
Na primeira parte, o estudo incidiu sobre a
construção civil, as indústrias do Vale do Ave e do Vale do Sousa, grandes superfícies comerciais, call-centers e
trabalho doméstico.
A proliferação dos
estágios não remunerados, o trabalho temporário e os falsos recibos verdes, bem
como a contradição entre o aumento da qualificação escolar dos jovens e a
redução dos salários de trabalhadores mais qualificados estão no centro da
análise desta segunda parte do estudo onde, à guisa de introdução, os autores
sublinham que a educação por si só não resolve os problemas da deficiente
organização produtiva- essa sim, responsável pela proletarização do trabalho
qualificado...
A precariedade não é
apenas uma condição laboral. É resultante da deterioração das relações entre o
capital e o trabalho, sendo os jovens as suas principais vítimas, mas não as
únicas. “Portugal tem taxas de desemprego dos jovens adultos entre os 25 e os
34 anos abaixo da média na União Europeia no que toca aos níveis de
escolaridade mais baixo, mas acima da média no que se refere aos níveis de
escolaridade secundário e superior”- sublinham os autores.
A precariedade está na
insegurança do vínculo de trabalho dos estagiários e no espírito manso e
obediente que ela promove. Está na ausência de proteção social em caso de despedimento.
Numa análise à
proletarização do jornalismo e à submissão do jovem jornalista aos interesses
das sociedades detentoras dos órgãos de comunicação social, os autores
escrevem:
“Cada vírgula, cada palavra, cada passo pode
significar a ausência de trabalho e até o fim da estrada no jornalismo. Não
podemos ser responsabilizados criminalmente pelos nossos erros, mas porque
podemos ser apagados rapidamente por termos pisado os calos de alguém. E se um
precário perde o trabalho em determinado jornal, perde quase sempre a hipótese
de trabalho em todos os jornais, revistas, rádios ou televisões do mesmo grupo
económico”.
Em resumo: uma
análise sobre o mundo laboral dos nossos dias, que é um retrato do
modelo de desenvolvimento que estamos a construir.