![]() |
Imagem roubada AQUI |
Desde que abri este Rochedo afirmei, repetidas vezes, que os portugueses estavam a viver acima das suas possibilidades. Sustentei sempre esta posição ( que me valeu algumas críticas) com os dados que ia conhecendo sobre o endividamento das famílias portuguesas que, no início da última década, já tinha ultrapassado o das famílias francesas ou holandesas, por exemplo.
Não era preciso ser bruxo para fazer aquelas afirmações. Saltava à vista de toda a gente que uma enormíssima parte das famílias portuguesas vivia a crédito, viajava a crédito, alimentava vícios a crédito e cultivava o desperdício como forma de vida. Os números de telemóveis por habitante, o parque automóvel, a febre dos gadgets ou a corrida à última novidade eram alguns dos sinais evidentes da ostentação provinciana que assaltou os portugueses a partir de meados dos anos 90.
Em todos os meus posts e artigos nunca deixei, no entanto, de atribuir uma boa parte das responsabilidades aos bancos, instituições financeiras e governo, pelo facto de incentivarem as pessoas a recorrerem ao crédito, criando-lhes a ilusão de que era barato e um poço sem fundo.
Em determinada altura, a publicidade agressiva deixava passar a mensagem de que só os totós não recorriam ao crédito para satisfazer o seu voraz apetite consumista.
Sempre foi para mim demasiado óbvio que ( apesar de considerar a possibilidade de recurso ao crédito muito positiva) uma sociedade que vivia a crédito não tinha grande futuro. Coloquei essa questão a João Salgueiro e a Vítor Constâncio que me responderam que o recurso ao crédito era salutar para a economia e o endividamento das famílias ( que em 1998 já atingira quase os 100%) ainda estava num patamar sustentável. Alguém me explica como pode ser salutar uma sociedade onde os bancos emprestam dinheiro sem saberem se as pessoas têm condições para pagar?
Vem isto a propósito das declarações de Isabel Jonet sobre a inexistência de miséria em Portugal ( podem confirmá-las no vídeo). Algumas tias saíram em sua defesa, dizendo que ela tinha muita razão.
Demos o benefício da dúvida a quem saiu em defesa da presidente do Banco Alimentar. Não podemos no entanto ignorar, que essa senhora que agora vem dizer que não há miséria em Portugal é a mesma que em 2010, em plena campanha de Cavaco, alertava para a miséria em Portugal e entrava na “campanha das tupperware”. Será que em 2012 os portugueses vivem melhor do que em 2010?
O que se pede à presidente do Banco Alimentar é que seja séria e não faça política à custa da caridadezinha, como era apanágio da Supico Pinto durante o salazarismo. Não só não é honesto, como é aviltante para quem recebe os donativos e para quem generosamente os dá.
Sempre tive alguma desconfiança em relação a instituições que se alimentam da caridadezinha porque, mais tarde ou mais cedo, se querem imiscuir na política, papel que não lhes deve estar reservado. Já se esqueceram de Fernando Nobre?
Em democracia, os problemas dos mais desprotegidos não se resolvem com a piedade e a caridade. Resolvem-se com o Estado social, com instituições solidárias organizadas em rede, vocacionadas para a prestação de serviços e não com organizações unipessoais cujos líderes procuram protagonismo. Isabel Jonet não é o Banco Alimentar Contra a Fome. É uma tia que gosta de ir à televisão para ganhar protagonismo, mas não se cansa de fazer declarações idiotas. O Banco Alimentar Contra a Fome não pode ser gerido por uma idiota, mas sim por quem saiba o que é a solidariedade.
Só as medidas sociais podem combater a pobreza e as desigualdades .Foi esse o caminho iniciado por Guterres e, apesar de alguns erros,continuado por Sócrates. O resto é folclore de tias que adoram os pobrezinhos , mas preferem vê-los à distância para não lhes sentirem o cheiro.
Resumindo: as palavras de Iabel Jonet e todo o alarido em sua defesa são, como diz José Simões, conversa de ir ao cú