Eunice Kennedy Shriver
(1921-2009)
O nome de Maria Shriver será familiar a muitos leitores. Não tanto pelo facto de ser jornalista, mas sim por ter sido casada durante 25 anos com Arnold Scwarzenneger.
Não é, porém, com Maria Shriver que inicio estas biografias de Mulheres de Outros Mundos, mas sim com sua mãe, Eunice Kennedy Shriver, irmã do falecido presidente americano e talvez a menos conhecida do clã Kennedy.
Escolhi-a, porque ela é sempre apontada como a fundadora dos Jogos Paralímpicos, um certame que decorre de quatro em quatro anos, após os jogos Olímpicos- que este ano se realizarão em Londres. No entanto, tal não corresponde à verdade…
Filantropa, Eunice dedicou grande parte da sua vida às pessoas com dificuldades de aprendizagem.
“O trabalho dela transformou as vidas de milhares de milhões de pessoas em todo o mundo e elas são, em troca, o seu legado” –lembrava a família em comunicado após a sua morte, em 2009.
Apesar de sempre ter estado envolvida nas campanhas democratas dos irmãos, o seu trabalho em prol das pessoas com deficiências mentais nunca conheceu barreiras políticas, tendo sido agraciada pelo presidente Ronald Reagan ( republicano) com a mais alta condecoração civil dos EUA: A Medalha Presidencial da Liberdade.
As suas preocupações com as pessoas mentalmente doentes começaram depois de a irmã Rosemary ter sido sujeita a uma lobotomia (levada a cabo devido ao ligeiro “atraso” de que supostamente sofria), tendo passado a maioria da sua vida num lar.
Lê-se, na sua biografia, que em 1963 participou num acampamento para crianças com deficiência mental realizado em Maryland. Terá sido nessa altura que percebeu que as crianças, mesmo com problemas mentais, eram muito ativas e tinham boas capacidades físicas. Estimulada pela realização das Olimpíadas de Tóquio, em 1964, empenhou esforços na realização de um evento paralelo destinado a pessoas com deficiência.
Na verdade, porém, a ideia dos Jogos Paralímpicos remonta a 1948, tinha Eunice 27 anos. Nesse ano, Londres foi a cidade organizadora dos Jogos Olímpicos e, por iniciativa de Sir Ludwig Guttmann realizou-se em Stoke Mandeville uma competição olímpica de arco para paraplégicos, mas apenas com representantes britânicos. Até 1959, a competição foi-se realizando de forma irregular, sempre em Stoke Mandeville, mas contando com um número crescente de participantes de outros países.
Foi em 1960, ano em que os Jogos Olímpicos se realizaram em Roma, que teve lugar a primeira edição dos Jogos para deficientes fora de Stoke Mandeville. A partir desse ano, os Jogos passam a realizar-se na cidade organizadora dos Jogos Olímpicos, respeitando o ciclo olímpico e ganham a nomenclatura de Paralimpíadas.
Eunice Kennedy Shriver não terá sido pois a fundadora dos Jogos Paralímpicos, como consta da sua biografia, mas sim uma grande entusiasta na sua realização. Será mais correcto atribuir a sua paternidade ao neurologista alemão Ludwig Guttmann ( obrigado pelo Reich a emigrar para Inglaterra) , já que a sua iniciativa em 1948 foi realmente o embrião dos actuais Jogos Paralímpicos.
A Eunice Shriver não pode, no entanto, ser retirado o mérito de ter dedicado a sua vida a apoiar os deficientes mentais, tendo desenvolvido uma obra de grande relevância, reconhecida não só nos Estados Unidos, mas também um pouco por todo o mundo. Por isso a incluo este ano entre algumas das grandes mulheres que vou destacar durante o mês de Março.