Para ler os capítulos anteriores, clique aqui
Os seniores que viajam na carruagem do Metro cresceram e conviveram em grupo(s) .Num ou vários, maiores ou menores, pouco importa, porque tinham um denominador comum projectado no centro de todos eles. Divertiam-se em festas particulares, organizavam tertúlias e iam ao cinema em grupo. Às vezes encontravam-se nos cafés e a rua era um espaço de recreio.
Os jovens funcionam em rede e já não pertencem apenas a um grupo. Associam-se a vários, estabelecem várias pontes, não apenas pelas afinidades cognitivas , culturais e sociais. Não há fusões colectivas ecléticas - mas no fundo unanimistas - com regras ditadas a partir de dentro que quando desrespeitadas por um dos membros conduzia ao seu afastamento. Hoje em dia os jovens agrupam-se num somatório de individualidades gregárias, unidas por um elemento ( seja ele o gosto por um género musical, uma prática desportiva, ou qualquer outro ponto comum) , onde cada um é dono de si próprio e procura a sua afirmação individual, porque os padrões de consumo são também determinados por gostos individuais que não se confundem com os gostos do grupo.
O habitat, o estrato social ou as escolhas académicas deixaram de ser determinantes para a formação do grupo, que passou a funcionar como somatório de indivíduos. Os jovens já não pertencem apenas a um grupo, mas a vários, consoante os interesses do momento , e os seniores que a seu lado viajam provavelmente também, embora seja crível que mantenham laços com vários elementos do grupo onde cresceram. A vitória do indivíduo sobre o grupo será, no entanto, mais visível nos jovens do que nos seniores.
É fácil aceitar que assim seja, se pensarmos que a sociedade da hiperescolha é uma sociedade que cultiva as aparências, pelo que a construção de uma imagem se afigura como fundamental para o sucesso. Os indivíduos da sociedade da hiperescolha não cultivam apenas uma boa imagem social. Aprenderam na escola que a competitividade é uma forma de sobrevivência e que vencer no mercado trabalho os obriga a diferenciarem-se do grupo, a criar um currículo e um portfolio de apresentação que impressione o empregador, e de ser persuasivos no momento de uma entrevista.
Isto acontece, porque as instituições foram as primeiras a perceber a importância da competitividade para triunfar nos novos mercados. Mais ainda, perceberam que numa época em que as marcas perderam alguma importância as empresas, para competir num mercado globalizado, têm de exibir ao público , para além de uma boa imagem, algumas características distintivas. Ora a comunicação com o público depende, em boa parte, da boa imagem dos seus colaboradores, da sua afabilidade e cortesia e até do modo de vestir. Por isso, algumas impuseram regras de vestuário e a partir delas cimentaram uma cultura empresarial que se tornou distintiva para quem lá trabalha.
Os colaboradores, por sua vez, aceitam viver sob pressão diária para triunfar na vida profissional, relegando para segundo plano a vertente familiar e o convívio com os amigos. A empresa acima de todas as coisas, porque é esse o custo a pagar pela satisfação do prazer de consumir. Ou seja, a via para a felicidade dionisíaca.
( Continua)