
Ontem, todos os olhares se concentraram em "O abismo Prateado", o filme de Karim Ainouz inspirado na canção de Chico Buarque "Olhos nos Olhos". Apontam-se favoritos para vencer a "Palma de Ouro". Fala-se muito de cinema mas, nos bastidores, há rostos fechados denotando preocupação.
Conversas que vão de encontro ao que escrevi aqui há precisamente um ano.
DSK é visto pela maioria como vítima de um complot com contornos bem mais alargados e perversos do que afastá-lo da presidência francesa. Há rangeres de dentes contra Sarkozy e a senhora Merkel. Mas também aplausos para o editorial de Jean Daniel no Nouvel Observateur- uma dura crítica às imagens de DSK algemado, que o condenarão para sempre à luz da opinião pública. Compara-se com a recusa da administração americana em exibir as fotografias de Bin Laden.
Fala-se do epílogo da crise de 1929 à luz do momento que actualmente se vive na Europa. Muitos admitem que o pior está para vir, mas ninguém arrisca pronunciar a palavra maldita.
Na Croisette a vida segue animada. Pelo tapis rouge desfilam vedetas. Mas não só...Fala-se outra vez de cinema. "Le Havre", de Aki Kaurismaki, recebe aplausos e liberta sorrisos. Discorre sobre a vida de um homem derrotado, mas optimista. Tendo por cenário a cidade da Normandia bombardeada durante a II Guerra. Sim, aquela guerra que pôs fim à crise de 1929. Os rostos voltam a fechar-se. Lá fora, passam duas alemãs. Vão formosas e seguras.