
Tive fases da minha vida em que fui workaholic, mas sempre detestei trabalhar sob stress. Mesmo quando os jornais fechavam às três, quatro ou cinco da manhã e era preciso escrever qualquer coisa de última hora para tapar o buraco de uma notícia cortada pela Censura, não tinha stress. Sentia elevadas doses de adrenalina vagabundear pelo corpo, mas era uma sensação boa.
O stress é uma “doença” dos tempos modernos. Alguém inventou que era preciso trabalhar a 200 à hora e ficar no escritório até de madrugada para ter sucesso e os yuppies "compraram" a ideia, em troca de BMW à porta, cartão de crédito com plafond generoso, férias em locais paradisíacos e uma conta bancária suficiente para satisfazer os caprichos consumistas de toda a família.
Nunca perceberam ( ou preferiram ignorar?) que o objectivo de afogar as pessoas em trabalho era impedirem –nas de pensar, por isso acharam normal passar a pedir tudo para ontem, em vez de ser para o dia seguinte. A maioria das pessoas foi atrás, seduzida pelo estauto yuppie. O problema é que o yuppie é como os espermatozóides. Todos querem lá chegar, mas a maioria fica pelo caminho, reduzido à condição de escravo dos tempos modernos, sem almejar o sucesso reprodutivo na sua conta bancária.
Fica muito bem a expressão " Preciso de isto urgente. Para ontem!" mas não encaixa com a minha maneira de ser. Quando faço uma coisa, gosto de a entender. Não gosto de "encher chouriços", só para ganhar uns cobres.
Sob stress não consigo escrever nada decente. Preciso de estar sereno e tranquilo, ter tempo para reflectir antes de escrever um artigo, fazer uma entrevista ou passar ao papel uma reportagem.
Nos últimos dez meses deixei-me ir na onda. Como “freelancer” a caminhar para o fim da vida activa, com direito a uma reforma de míngua, deixei-me emaranhar no novelo e comecei a aceitar tudo o que me pediam, para acautelar o futuro. Mas que futuro? Sei lá se o meu futuro são 30 anos ou 24 horas?
Lá diz o povo que “depressa e bem há pouco quem” e eu não pertenço a esse reduzido número de eleitos. Desgastei-me sem necessidade. E cheguei ao cúmulo de escrevier alguns posts pouco cuidados, porque confundi o CR com o meu "moleskine", onde tomo notas apressadas. Esqueci que mais de duas centenas de pessoas me lêem diariamente e que, a partir desse momento, o CR deixou de ser apenas meu, para passar a ser, principalmente, dos meus leitores.
Vou regressar ao presente que é onde se está bem porque, como diz o povo, “o futuro a Deus pertence” e os yuppies são coisa do passado. A crise que se dane!
(Li no blog onde roubei esta imagem, que até os ratinhos têm stress, mas isso certamente é culpa nossa, que andamos sempre a martirizá-los com experiências).